Potes que encantam: estilo e agência na cerâmica polícroma da Amazônia central
[thesis]
Erêndira Oliveira
Linha de Pesquisa: Cultura Material e Representações Simbólicas na Arqueologia São Paulo 2016 À Teresa. RESUMO Esta dissertação foca na questão da variabilidade artefatual das cerâmicas Guarita da Amazonia central, complexo cerâmico pertencente à Tradição Polícroma da Amazônia, que se inicia por volta do ano 1000 e perdura até a conquista europeia, espalhando-se por toda a Amazônia central e a alta Amazônia. A partir de um recorte analítico sobre um determinado tipo de vasilha muito recorrente
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... a cerâmica Guarita, o vaso com flange mesial, a pesquisa desenvolveu uma abordagem de análise que integra elementos tecnológicos e iconográficos, definindo os elementos distintivos e variações regionais do estilo polícromo. A partir desta variabilidade formal, das linguagens e temas iconográficos elencados, discutem-se os possíveis processos de transmissão e reprodução deste estilo. Partindo da interlocução entre conceitos da Arqueologia, da Antropologia da Arte e da Etnologia, pudemos entender estes componentes cerâmicos enquanto expressões materiais de um estilo introduzido e compartilhado entre distintas regiões na Amazônia, atuando na veiculação de mensagens imbricadas aos sistemas ontológicos ameríndios, centralizados na transformação corpórea. Desta forma, os artefatos foram analisados enquanto agentes em dinâmicas rituais de reatualização cosmológica, dentro de um amplo sistema cosmopolítico. A partir destas discussões pudemos ampliar o debate sobre a expansão do estilo polícromo entre as sociedades pré-coloniais da Amazônia, pensando quais eram as relações existentes entre estas linguagens estéticas pretéritas e as sociedades que produziram as cerâmicas Guarita. Palavras-chave: ABSTRACT This thesis focus is the variability of Guarita ceramics, a complex belonging to the Amazonian Polychrome Tradition, which begins around the year 1000 and lasted until the European conquest, spread throughout the central and upper Amazon. We chose to work with a very recurrent type of vessel in the Guarita ceramic complex, the vase with mesial flange, in order to apply a method which integrates technological and iconographic variables and define distinct elements and regional variations of the polychrome style. Based on the morphological variability and different iconographic languages, we were able to discuss the possible processes of transmission and reproduction of this style which could explain its regional spread and apparent homogeneity. This work benefits from a dialogue of concepts form Archaeology, Anthropology of Art and Ethnology, enabling us to understand these ceramic components as material expressions of an introduced and shared style among different regions in the Amazon, displaying messages related to specific Amerindian ontological systems, centered on the transformation body. Thus, the artifacts were analyzed as agents taking part in dynamic rituals for reenacting cosmological beliefs, within a broad cosmopolitical system. From these discussions we were able to broaden the debate on the expansion of the polychrome style of the pre-colonial societies of the Amazon, and enhance our understanding of the relation between these ancient aesthetic languages and societies that produced the ceramics. Agradecimentos Agradeço primeiramente às professoras, professores, funcionárias e funcionários do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, onde pude desenvolver minha pesquisa durante estes quase quatro anos. À Capes -Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior -pela bolsa de pesquisa que fomentou este trabalho durante dois anos. À Profª Drª Elaine Farias Veloso Hirata por me acolher sob sua orientação no MAE e pela parceria no desenvolvimento desta pesquisa. À Profª Drª Cristana Barreto, com a qual tive a oportunidade de trabalhar no decorrer destes anos. Agradeço especialmente pelo trabalho conjunto desenvolvido e pelas longas conversas através das quais pude dar direção à vontade original deste trabalho, que era a interlocução entre a Arqueologia e a Arte. Ao Prof. Dr. Eduardo Góes Neves que me apresentou a Arqueologia Amazônica, e com isso, às pessoas e lugares que ocupam hoje um lugar mais que especial na minha vida. Obrigada por apoiar as minhas ideias atrapalhadas de recém-formada em Artes Visuais. À equipe do ARQUEOTROP -Laboratório de Arqueologia dos Trópicos -onde eu pude fazer grandes amizades, na vida e no campo. Agradeço especialmente à Marjorie, o pequeno Vini, Carol, Leandro, o também pequeno Henrique, Thiago (Pitoko), Guilherme,Thiago (Taubaté), Jaq Gomes, a pequena Sara, Fernando, Filippo, Marta, Claide, Anne, Bruna, Breno (eterno amigo de lab) e tantos outros e outras que foram igualmente importantes durante estes anos. Obrigada mais uma vez por me aturarem ligando de madrugada com dúvidas sobre datações, referências bibliográficas e fases cerâmicas. À Gabriela Carneiro pelas horas de conversa enquanto dissecávamos peixes e fotografávamos pequenos roedores cheirando a formol. Chegamos juntas a conclusão que as cobras e os peixes são animais perigosos e vingativos. À Jaqueline Belletti, pelas horas e mais horas tentando entender as cerâmicas coloridas e seus efeitos sensoriais. Se hoje eu vejo cobras por todos os lados, a culpa é dela. Estivemos juntas em todos os congressos, eventos e lugares possíveis para apresentar nossas ideias mirabolantes. Temos história para contar. À Silvia Cunha Lima pela generosidade de me ensinar sobre as pinturas, as queimas, e os segredos tecnológicos das cerâmicas. As horas de trabalho com restauração me lembravam do que eu mais gostava nas Artes. Dar visibilidade às iconografias escondidas das cerâmicas é como dar nova vida aos motivos que as compõem. Os mapas que constam neste trabalho e a reconstituição de algumas morfologias foram feitos, com muita atenção e primazia, pelo Eduardo Kazuo. Sou muito grata por este trabalho e também pelas longas conversas sobre a cerâmica polícroma. O Rafael, querido amigo, deu conta de calcular o volume das peças aos 45 do segundo tempo. Obrigada mais uma vez pela ajuda e pelo carinho compartilhado quanto ao brega amazônico. Também nos últimos momentos e, com poucos materiais disponíveis, Jennifer Watling causou uma reviravolta na pesquisa ao apresentar alguns dos dados da análise de microvestígios botânicos. À Myrtle e Luciano por tantas vezes me acompanharem ao acervo da UFAM, organizando e desorganizando caixas e mais caixas da enigmática coleção do sítio Lauro Sodré. A ambos também agradeço, junto ao Douglas Machado, pelos dados de análise do conteúdo ósseo de um destes vasos cerâmicos. Às equipes dos acervos onde pesquisei durante este longo período: O Museu Paraense Emílio Goeldi; a Universidade Federal do Amazonas e Museu Amazônico, o Museu Nacional da UFRJ e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé. Aos grandes amigos e amigas da Arqueologia. Pessoas maravilhosas sempre unidas no cafezinho da tarde no Museu. Emerson, Maurício, Vivi, Meliam, Marina, Duane, Aninha e todos e todas que cruzam aquele famoso corredor. Às arqueólogas da minha vida: Patrícia Marinho, sempre pronta pro samba e acarajé. Muito Axé pra nós minha irmã. Camira (Jácome), mulher onça maravilhosa e mãe do Ravi Kawana, que nasceu no dia em que fiz minha primeira cerveja artesanal. E Laurinha, à qual nem sei direito o que agradecer. Laura foi minha parceira de campo, da vida, dos momentos de desabafos e comemorações, fez coleta, revisou bibliografia, e tantas outras coisas que nem caberiam neste papel. Aos amigos e amigas que formam minha segunda família: Patrick,Vinicius, Milena, Gabi, Paloma, Silvia Helena, Michele, Lula, Luba, Rui, e tantos outros e outras que estiveram presentes, apoiando e ajudando neste processo. À Débora que está comigo desde o começo dos tempos da Arqueologia e muito antes disso. As contribuições dela foram essenciais para esta pesquisa e para que eu compreendesse melhor algumas das teorias antropológicas com as quais propus dialogar. Ela também esteve mais do que presente para me ajudar com a finalização de tudo. Obrigada por tudo, desde sempre. Ao Bruno que arrumou a formatação final quando os computadores se recusaram, me acalmou e me carregou várias vezes para fora de São Paulo. As conversas sobre os potes, as urnas, as onças, o fim do mundo e outros tantos temas também tiveram seus impactos sobre esta pesquisa. À minha família, sempre presente e, especialmente à Lúcia, que me apresentou a Arqueologia. Seu carinho e apoio foram essenciais para que eu pudesse seguir adiante neste caminho. À ela sou mais do que grata. Às amadas Andrômeda, Artemis, Julia e Biba e ao amado Kainã. Ao João e à Nani, por incentivarem sempre minhas ideias , mesmo as mais desorientadas e me criarem num mundo povoado de arte. À minha mamãe grande, dona Teresa, e ao seu João, que estão em algum lugar rezando por mim.
doi:10.11606/d.71.2016.tde-21072016-152452
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