O silêncio, ainda? O desejo de nada, um fantasma, ainda

Davi Carneiro Pessoa
2012 Outra Travessia  
Decididamente o olho não dá ouvidos". L'Innommable. Samuel Beckett. Uma anedota para começar. Sabe-se que Samuel Beckett , aos 28 anos, começou a fazer análise com Wilfred Bion, durante os anos 1934-35, na Tavistock Clinic em Londres 2 . Didier Anzieu, em Beckett et le psychanalyste (1992), cita um comentário de Bion sobre seu paciente: "Il me donne la becquée et, quand je vais pour le prende, il me flanque um coup de bec" 3 . O que poderia ser apenas uma brincadeira do nosso autor nos revela
more » ... mo pensamento que perpassa não somente aquela que se costuma chamar trilogia do pós-guerra, Molloy (1951), Malone meurt (1951) e L'Innommable (1953), mas também vários textos de Samuel Beckett. Pensamento, por quê? Pois são muitas as questões implicadas nesse comentário de Bion. Ir ao encontro, sem, no entanto, apreender, pois a bicada pode ser dada, e caso assim ocorra, o jogo estará finalizado, já que o dizer e o dito irão se identificar e a representação será efetivada. Ao lermos qualquer texto de Samuel Beckett nos deparamos com inúmeras indagações, uma destas poderia ser: "Por que a imaginação e não o imaginário?" 4 . Certamente essa é uma questão não diferente daquela proposta por Maurice Blanchot, em L'entretien infini (1969): questão mais profunda, assim como aquela colocada por Beckett ao longo das três narrativas, já que esta sempre retorna, como um salto, e nesta a palavra se dá sempre como inacabada, ou ainda, como um esquecimento ou uma quase memória. E é partir dessa questão que pretendo seguir os
doi:10.5007/2176-8552.2011nesp2p123 fatcat:gwpmficqo5emxdaom5o65vzrfm