Coagulase-Negative Staphylococcus in Blood Cultures: Infection or Contamination?
Manoel de Carvalho
1997
Jornal de Pediatria
Apesar dos recentes avanços na prevenção e tratamento, a infecção neonatal ainda é a causa mais importante de morbidade e mortalidade nos berçários. Características únicas dos recém-nascidos os tornam hospedeiros vulneráveis a infecções. A produção de Ig A secretória é ausente nos primeiros dias de vida, os mecanismos de defesa imunológica celular e humoral estão comprometidos e a pele, em especial a do recém-nascido pretermo, é imatura e relativamente permeável 1,2 . Até a década de 70, o
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... ylococcus aureus era a bactéria predominante em infecções nosocomiais em berçários. Atualmente, o patógeno mais prevalente é o Staphylococcus sp. coagulase-negativa 3 . Originalmente, todos os Staphylococcus coagulasenegativa eram grupados sob a designação de Staphylococcus albus 4 . Os trabalhos de Kloos, Schleifer e col., baseados nas propriedades bioquímicas dos Staphylococcus coagulase-negativa, permitiram identificação de 21 espécies diferentes. Dessas 21 espécies, 11 são encontradas, normalmente, na flora humana 3 . Virtualmente, todos os recém-nascidos se colonizam com esses organismos numa fase precoce da vida. Quarenta e oito horas após o parto, 90 a 100% dos recém-nascidos apresentam culturas de superfície (axila, virilha, orelha e couro cabeludo) positivas para Staphylococcus sp. coagulase-negativa 5 . Devido a essa elevada freqüência de colonização, pensou-se, no passado, que essa bactéria fosse apenas um comensal da pele, geralmente sorprófita e não patogênica. Entretanto, esse microorganismo tem sido cada vez mais implicado em infecções nosocomiais, principalmente envolvendo recém-nascidos prematuros. Recentes trabalhos sugerem que nestes pacientes a capacidade de opsonização para o S. epidemidis esteja consideravelmente diminuída e seja diretamente proporcional à idade gestacional 6 . Dentre os Staphylococcus sp. coagulase-negativa, o S. epidermidis é o mais freqüentemente associado a infecção no recém-nascido e, possivelmente, o mais virulento 7 . Na maioria dos casos, a infecção sistêmica se desenvolve quando o organismo, que coloniza a pele do recémnascido, invade a corrente sanguínea após quebra na integridade da pele ou membrana mucosa. Menos freqüentemente a porta de entrada pode ser através do tubo digestivo ou trato respiratório. Inicialmente os sinais de infecção são inespecíficos e incluem instabilidade térmica, hiporreatividade e perfusão periférica diminuída. Diante desse quadro clínico, o pediatra solicita uma hemocultura. Ao ser avisado pelo laboratório que existe crescimento de Staphylococcus sp. coagulase-negativa, ele se vê diante de um dilema: trata-se de contaminação, ou infecção? Idealmente o pediatra deveria checar as condições clínicas do paciente e colher outras hemoculturas antes de iniciar antibioticoterapia. Entretanto, na prática clínica, e em especial no cuidado de recém-nascidos prematuros e de alto risco, nem sempre é possível protelar o início da antibioticoterapia. Através de métodos microbiológicos, diversos autores têm tentado distinguir contaminação de infecção. Esses métodos incluem a identificação específica da cepa do Staphylococcus sp. coagulase-negativa, a presença de um polissacarídeo extracelular (que, inibindo a fagocitose e a atividade antimicrobiana, confere maior virulência à cepa) e a quantificação do número de colônias de bactérias (> 50 ufc/ml em casos de septicemia) 8,9 . Infelizmente, esses métodos não são acessíveis para a maioria dos laboratórios, o que, na prática clínica, impele o pediatra a iniciar antimicrobianos precocemente. O artigo de Silbert e col., publicado neste número do Jornal de Pediatria, aborda com propriedade este dilema do pediatra. Analisando 45 hemoculturas positivas para Staphylococcus sp. coagulase-negativa, os autores, de acordo com critérios clínicos e laboratoriais, classificaram os pacientes em infectados, não-infectados e casos duvidosos.
doi:10.2223/jped.520
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