Sou daqui, da Caieira da Barra do Sul: parentesco, familia, casa e pertença em uma localidade no sul do Brasil
[thesis]
Raquel Wiggers
iii RESUMO O trabalho é uma etnografia sobre a Caieira da Barra do Sul, localidade do Distrito do Ribeirão da Ilha, Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil. A pesquisa desenvolvida entre os moradores e freqüentadores do bairro durante todo o ano de 2003, objetivou analisar os sentimentos de pertença à Caieira da Barra do Sul, manifestados primeiramente pela dicotomia daqui/ de fora. Ser "daqui" ou "de fora" marca o pertencimento ou não ao bairro e informa, também, conhecimentos acerca
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... lugares longe e perto da Caieira, relações de parentesco, amizade, proximidade e distanciamento, convivência da família extensa nas Casas, a forma da relação entre Casas e entre as casas de praia. Isso sem deixar de considerar o contexto de modificações sociais importantes que passa o bairro nos últimos 30 anos, e que interferem nas dimensões espaciais e temporais que reformulam a pertença, a Casa, e o parentesco. iv ABSTRACT The research that follows is an ethnography about "Caieira da Barra do Sul", a neighborhood located in the district "Ribeirão da Ilha", in the city of Florianópolis, State of Santa Catarina, Brazil. The ethnography developed among the inhabitants and frequent visitors of the district during the year 2003, was aimed at analyzing the feelings of belonging to "Caieira da Barra do Sul", as indicated firstly by the dichotomy native/foreigner. Being "native" (or from here) or "a foreigner" (or an outsider) denotes the belonging or not to the District under study and it also gives knowledge about places close and far from "Caieira", kinship relations, friendship, proximity and distant relations, the lifestyle of large families in a same house, the way a house and a house at the beach are related. Not forgetting to consider the context of important social changes under which the District has been in the last 30 years, and that interfere in the time and space dimensions that reformulate the belonging to, House and kinship. v AGRADECIMENTOS Agradeço a CAPES por dar a possibilidade financeira de realização deste trabalho. Agradeço aos meus professores da pós-graduação da Unicamp e aos funcionários da secretaria de pós-graduação da Unicamp. Agradeço à professora Suely Kofes por ter aceitado a orientação deste trabalho, agradeço pelo apoio, e pela segurança transmitida durante todo o desenrolar do mesmo. Agradeço aos integrantes do grupo de estudo "Marcel Mauss", coordenado pela professora Suely Kofes, pelos encontros quinzenais em 2001 e 2002, pelas ótimas leituras e debates conjuntos. Agradeço aos moradores e freqüentadores da Caieira da Barra do Sul que tornaram este trabalho possível, agradeço especialmente a Dona Santinha, Seu Bi, Dona Bilica, Seu Fabriciano, Marli, Dona Ceci, Alessandra e Denair. Quando cheguei, Campinas era uma cidade desconhecida para mim e durante o tempo que morei na cidade foram inúmeras as pessoas que me ajudaram a conhecer, gostar e fazer parte dela. Agradeço a recepção que tive nesta cidade boa de se viver, e aqueles que tornaram a falta que eu sentia de casa mais amena. Agradeço aos inúmeros amigos queridos de Campinas. Agradeço a Bertrand e Nashieli pela amizade, pelo carinho e acolhimento. Quero também agradecer a amigos que foram meus interlocutores para quem eu recorri inúmeras vezes durante todo o doutorado, fazendo-os ler meus textos ou me ouvir discorrendo sobre meu tema. Agradeço ao querido Gábor Basch por suas instigantes questões que amarrava os nossos trabalhos e os fazia tão próximos, pelas discussões teóricas, pelas indicações bibliográficas, pela hospedagem, pelo carinho. Agradeço ao querido Gustavo, meu companheiro de estudos, pelas tardes na biblioteca, por acompanhar meu desenvolvimento, por me dar força e apoio. E também por me apresentar Marília que se tornou uma colaboradora em nossas discussões nas noites teóricas. À amiga Marta Jardim, grande companheira de estudos durante todo o doutorado, muito obrigada! Eu preciso agradecer também a pessoas que participaram e estavam presentes em todos os momentos desta tese, minha família. Agradeço aos meus irmãos Karina, Renato e Fábio; minha cunhada Andréa, meu tio Alfredo e ao Chico. Agradeço também às minhas filhas Natacha e Diana e, principalmente, à minha mãe Maria Emília. Obrigada por tudo! "'Sou daqui da Caieira da Barra do Sul': parentesco, família, casa e pertença em uma localidade no sul do Brasil" "...nunca se deve confundir a cidade com o discurso que a descreve. No entanto, há uma relação entre ambos" Ítalo Calvino. INTRODUÇÃO GERAL Em minha primeira conversa com dona Aparecida, uma senhora de 71 anos moradora "daqui" da Caieira da Barra do Sul, fui apresentada como alguém da Costeira do Ribeirão da Ilha 1 . Ela abriu um imenso sorriso e quis saber qual casa eu morava, respondi que morava na casa rosa 2 . Ela perguntou se eu era parente das pessoas que haviam habitado aquela casa há 80 anos e começou a contar a sua história relacionada ao lugar onde eu morava. Foi naquela casa que seu pai se casou em segundas núpcias, logo depois de ficar viúvo, com uma moça que lá residia, "Eu brincava por tudo lá naquele terreno, que dava muita banana, laranja, vergamota. Tinha um engenho de farinha mais lá em cima que não existe mais" 3 . Contou-me também que a cunhada de sua madrasta faleceu ao ir da casa ao engenho na chuva logo após o parto deixando cinco crianças órfãs que foram distribuídas entre os parentes. Senti-me na obrigação de lhe dizer que eu "não sou daqui, eu sou do centro". Minha família comprou o terreno há mais de 30 anos e eu, desde os seis anos de idade, passava três meses por ano no Ribeirão. Durante oito anos no inicio da década de 90, residi na Costeira do Ribeirão e fui proprietária de uma loja de produtos agropecuários que havia na casa rosa. 1 A Costeira do Ribeirão da Ilha fica há 15 km da Caieira e tem com ela fronteiras simbólicas bastante difusas. 2 A casa rosa é uma casa colonial no estilo açoriano construída há mais de 200 anos, localizada na Costeira do Ribeirão da Ilha. Ela é ponto de referência, e está pintada de cor-de-rosa há pelo menos 35 anos. Eu resido, na realidade, na casa construída ao lado desta -onde mora meu irmão -mas eu já aprendi que o costume daqui é fazer referencia ao terreno da família como a casa onde se reside. 3 Diário de Campo 12/07/02.
doi:10.47749/t/unicamp.2006.366353
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