Por que é necessário conhecer Beatriz Nascimento
Ivan Felipe Fernandes Gomes
2020
Revista África e africanidades
Como conceituar a Intelectualidade Negra Brasileira? Pediram para delimitar O que é a intelectualidade negra E eu não consegui responder. Como definir em um único conceito, tanta potência? Horas e dias se passaram e a resposta não aparecia, Mas ao ver este caderno pronto, Foi possível compreender que a intelectualidade negra brasileira é A pajelança afropindoraminca de dona Rouxita É também a contra colonialidade de Nêgo Bispo Está na educação antirracista de Nilma Lino Gomes Vem das quebradas,
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... onde o Rap dos Racionais Mc's ensina e dá esperança Está na alma insubmissa de Beatriz Nascimento, que reescreve a história no negro brasileiro e traz conforto e vivacidade em seu conceito de quilombo Está na negritude estética dos Batuques de Bruno de Menezes E na escrita insurgente de Cidinha da Silva Está cravada na paisagem carioca, na arquitetura inovadora de Mestre Valentim A intelectualidade negra brasileira é a potência infinita Que está na academia, nas ruas, nos terreiros, nas favelas E sua essência se situa na encruzilhada de possibilidades Que cada negro brasileiro que viveu, vive e viverá pode compor. Autor: Ivan Felipe Fernandes Gomes Codinome: Colosso do amor. Ao longo do século XXI tem aumentado o número de ações, programas e leis pela valorização das/os negras/os brasileiras/os. A lei 10639/03 -a qual institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em todos os níveis e modalidades de ensino -, certamente, é um dos marcos fundamentais desse movimento de valorização das pessoas negras. Seguindo a agenda dessas transformações na sociedade brasileira, o presente caderno de ensaios reúne textos que apresentam intelectuais negras e negros 1 Coordenação do GT -Intelectualidades Negras Brasileiras (2020-2021). Caderno Intelectualidades Negras Brasileiras • 8 Revista África e Africanidades, ed. n. 36, Suplemento n. 01, v. 1, 2020 • ISSN: 1983-2354 nascidas/os no Brasil, e que constituem importante contribuição para a formação do pensamento afro-brasileiro. Com o propósito de praticar uma política de visibilidade dessa população, e da diversidade de saberes e modos de produção de conhecimento que muito extrapolam os campos acadêmicos disciplinares das universidades, integramos neste caderno uma perspectiva de intelectualidade que agrega tanto acadêmicas/os, quanto pensadores/as e intérpretes de diferentes áreas do saber popular ou erudito, desde que apresentem reconhecida influência na vida sociocultural dos diferentes territórios brasileiros. Entendemos que um sujeito sem referência não tem como falar em nome próprio, e isso nos alerta sobre a grande relevância de sabermos (re)conhecer nossos intelectuais negros e negras em diferentes áreas do saber. No intento de contribuir com a construção desse processo de valorização da cultura afro-brasileira, argumentamos que conhecer nossos/as intelectuais certamente nos ajudará a produzir outras leituras do mundo, outras formas de imaginar presentes e futuros, interferindo, inclusive, na nossa subjetividade racial, nos politizando a partir do lugar sociocultural que ocupamos na sociedade atual. Entendemos, portanto, que este caderno de ensaios soma na disputa por um projeto de nação que queremos mais afro-brasileiro e anti-racista. Por fim, além de apresentar os intelectuais negros e negras de diferentes lugares do Brasil, nossa proposta é que esses textos, reunidos no caderno de ensaios da Revista África e Africanidades, possam servir de apoio educacional aos/às professores/as em diferentes níveis de formação escolar e universitária. Em 2001, diversos segmentos dos movimentos negros do Brasil se organizaram para participar da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Diversas Formas de Intolerância Correlata, promovida pela ONU, em Durban, África do Sul. Os movimentos negros ali presentes conseguiram se articular de forma tal que estabeleceram, com outras delegações brasileiras que também estavam lá, uma posição consensual a respeito da luta antirracista, a tal ponto que levou o governo do Brasil à época a reconhecer que este é um país racista, que a democracia racial tão propalada nunca passou de um mito, e isso o levou a, consequentemente, assumir a necessidade da criação de políticas públicas de combate ao racismo. Desde então, muitos dos objetivos das lutas de décadas de nossos movimentos negros começaram a se concretizar e podemos citar alguns deles, como a assinatura da Lei 10.639/03, que alterou a LDB, tornando obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro-brasileira no currículo oficial; o Parecer CNE/CP 003/2004, que instituiu Caderno Intelectualidades Negras Brasileiras • 14 Resumo Dona Rouxita é uma mulher negra e pajé da Amazônia Marajoara. Pajé desde os sete anos de idade, Dona Rouxita se tornou famosa na cidade de Soure, onde vive, devido aos feitos de cura que realiza ao longo dos últimos 63 anos. Para além da pajelança, ela também tem se engajado em ações sociais na cidade de Soure, Ilha do Marajó, onde exerce importante influência sobre as práticas de cuidado em saúde do corpo e da espiritualidade. Ao apresentar um pouco da história e feitos de Dona Rouxita, o texto propõe reflexões fundamentais sobre a relação entre ancestralidade e (contra) colonialidade do saber. Palavras-chave: Mulher. Negra. Amazônida. Pajé. Ancestralidade. Abstract Mrs. Rouxita is a black woman and shaman from the Amazon Marajoara. Shaman since the age of seven, Mrs. Rouxita became famous in the city of Soure, where she lives, due to the healing feats she has accomplished over the past 63 years. In addition to shamanism, she has also engaged in social actions in the city of Soure, Ilha do Marajó, where she has an important influence on the health care practices of her body and spirituality. By presenting a little of the history and deeds of Mrs. Rouxita, the text proposes fundamental reflections on the relationship between ancestry and (counter) coloniality of knowledge.
doi:10.46696/issn1983-2354.raa.2020v13n36.cad-int-n-br39-44
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