Limites, neutralidade e troca de papéis na entrevista televisiva – A entrevista de Manuela Moura Guedes a António Marinho Pinto no Jornal Nacional de Sexta, TVI (22 de Maio de 2009)

Ana Isabel Gomes Melro, Helena Filipa Carvalho, Mariana Lameiras de Sousa, Vítor de Sousa
2012 Revista Comunicação e Sociedade  
Resumo: As entrevistas televisivas são encenadas para uma audiência. Neste sentido, apesar da existência de elementos espontâneos e imprevisíveis que geralmente ocorrem nas transmissões em directo, os telespectadores esperam ver, tanto o entrevistador como o entrevistado, representarem os seus papéis. Isto significa que é legítimo para o jornalista fazer questões, ainda que em nome do público, e, para o entrevistado, responder a essas questões. Contudo, por vezes a linha entre a tomada de uma
more » ... sição neutral e uma posição de "advogado" é transposta pelo jornalista, conduzindo ao chamado "jornalismo agressivo" (Clayman, 2002 ). Esta análise foca-se nessas excepções. O caso em estudo traduz-se na entrevista entre Manuela Moura Guedes, pivô do Jornal Nacional de Sexta da estação TVI, e António Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, transmitida no dia 22 de Maio de 2009. Enquadrando o nosso trabalho na Análise Conversacional (Ekström, 2007; Cameron, 2001; Greatbatch, 1998) , e partindo da análise da sequência de abertura da entrevista, baseada na estrutura de Clayman (1991), analisámos a transgressão e manutenção dos limites éticos e da posição neutral do entrevistador na interacção com o entrevistado. A análise desenvolvida rumou no sentido da constatação de uma troca de papéis entre os participantes: Marinho Pinto, advogado, assume a legitimidade e a autoridade de questionar, geralmente atribuída ao papel de jornalista; por outro lado, Manuela Moura Guedes, jornalista, assume uma posição de "advogada" ao fazer juízos de opinião sobre o entrevistado. A entrevista converte-se num debate, o qual culmina num ataque ao profissionalismo da jornalista. * Trabalho desenvolvido no âmbito da UC "Pragmática da Comunicação" do 1.º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação -Informação e Jornalismo (Universidade do Minho) sob a coordenação da Prof. Doutora Zara Pinto-Coelho.
doi:10.17231/comsoc.17(2010).1015 fatcat:wp3sd23nvnhvlfoo227tbzlema