Formação continuada, para quê?
Meyri Venci Chieff, Maria José Reginato
2015
Cadernos Cenpec
Resumo: A partir da descrição de quatro experiências de formação continuada de professores de redes públicas de ensino das quais as autoras participaram como formadoras, são identificadas algumas condições comuns que podem ser reconhecidas como responsáveis pela boa avaliação das experiências. As condições propostas são: prioridade na política educacional, adesão dos professores, participação nas decisões, envolvimento de expressivo número de profissionais e de diferentes instâncias do sistema,
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... mudança nas condições de trabalho dos professores, formação contínua e sistemática com, no mínimo, dois anos de duração, prática dos profissionais como conteúdo da formação, movimento metodológico, lócus da formação, acompanhamento pelo sistema e avaliação contínua. Palavras-chave: Formação. Participação. Autonomia intelectual. Condições de trabalho *Pedagoga com pós-graduação em Supervisão e Currículo na PUC. Diretora do Ensino de 1º e 2º Graus da Secretaria de Educação da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, na gestão do prof. Paulo Freire; coordenadora de vários projetos no Cenpec e atual colaboradora meyri@cenpec.org.br **Pedagoga. Coordenadora do Programa de Formação para Professores de 4ª e 5ª séries da Rede Municipal de Ensino, na gestão Paulo Freire; coordenadora de vários projetos no Cenpec e atual colaboradora zeze@cenpec.org.br cadernoscenpec | São Paulo | v.4 | n.2 | p.174-195 | dez. 2014 Introdução Entende-se por formação continuada aquela destinada aos profissionais que já estão no exercício da docência, em contraposição à formação inicial que forma os profissionais para o seu exercício. São duas práticas distintas que não se confundem e não se substituem, mas se complementam. Por que os profissionais que exercem a docência precisam de formação? Primeiro porque, conforme Freire afirmava, o ser humano, enquanto ser social e histórico, é um ser finito, limitado, inconcluso e consciente de sua inconclusão: Assim, estamos inexoravelmente inseridos, de forma ingênua ou crítica, em processo contínuo de formação. Ao longo da história humana, a educação, como processo de conhecimento, de formação, de ensino e de aprendizagem, passou a fazer parte da existência humana, como qualquer outra produção cultural, como a linguagem ou a tecnologia. Aliás, o desenvolvimento da linguagem conceitual contribuiu imensamente para que a educação humana fosse para muito além do treinamento que se realiza com os outros animais. É nessa condição que se funda a formação permanente. A formação é permanente porque, ao longo da história, o ser humano tomou consciência de que vivia, de que sabia e de que podia saber mais sobre si e sobre o mundo, que se transforma continuamente. Assim, o ser humano jamais parou de educar-se. No caso específico dos professores, cuja atuação profissional é inserir as novas gerações, de forma crítica, no mundo do conhecimento produzido pela humanidade, a formação permanente é uma condição indispensável. Ela é um recurso de aprimoramento, de atualização dos profissionais, num mundo em constante movimento. A realidade se transforma rapidamente, produzindo fenômenos novos que precisam ser conhecidos, para uma maior compreensão do mundo e de seu funcionamento. A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. Inacabado e consciente de seu inacabamento histórico, necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de opções, de decisão (FREIRE, 2014a, p. 108). Ressaltamos inicialmente a sua condição de ser histórico-social, experimentando continuamente a tensão de estar sendo para poder ser e de estar sendo não apenas o que herda, mas também o que adquire e não de forma mecânica. Isso significa ser o ser humano, enquanto histórico, um ser finito, limitado, inconcluso, mas consciente de sua inconclusão. Por isso, um ser ininterruptamente em busca, naturalmente em processo (FREIRE, 2014b, p. 23). cadernoscenpec Chieffi, Meyri Venci Reginato, Maria José
doi:10.18676/2237-998322014295
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