Entrevista com o escritor moçambicano Alex Dau

Terezinha Taborda Moreira
2019 Scripta  
Minas. Professora do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq -Nível 2. Coordenadora do Grupo de Pesquisa África e Brasil: repertórios literários e culturais. Alex Dau é o pseudónimo do escritor Paulo Alexandre Dauto da Conceição, natural de Quelimane, região da Zambézia, em Moçambique. Formado em literaturas Portuguesa e Africana pela Faculdade de Letras da Universidade Eduardo Mondlane, atuou com o Programa Literário "Leituras" na
more » ... o de Moçambique, sob a direção do escritor Nelson Saúte, e tem obras publicadas em diversas revistas e semanários de seu país e, agora, do Brasil, onde lançou, em março deste ano, o livro de contos O galo que não cantou e outras histórias de Moçambique pela Editora Nandyala, de Belo Horizonte. No prefácio da segunda edição de sua obra Reclusos do tempo, publicada pela Oleba Editores em Maputo, em 2017, Hélder Nhamaze aponta a singularidade da escrita de Alex Dau quando afirma que o escritor "coloca Moçambique olhando para si próprio através das suas vivências, das suas idiossincrasias e da suas metamorfoses". De fato, é um Moçambique contemporâneo que vemos circular pelas ruas, becos, maximbombos, mercados e casas que conformam os cenários apresentados em uma escrita que investiga, em gesto perquiridor, as formas pelas quais a nação ainda desenha sua identidade. Nesses cenários, velhos, velhas, prostitutas, jovens, crianças, ladrões e trabalhadores coexistem nos espaços de subjetivação de uma escrita que se abre para eles, desvelando sua condição subalternizada, mas também a resiliência com a qual elegem ocupar seu espaço no mundo. Constelar, a escrita de Alex Dau passeia pelo campo e pela cidade, espelhando a realidade moçambicana em tramas que suturam, em filigrana, os detalhes, as minúcias, as particularidades que marcam uma sociedade cuja encenação estética se desloca entre a realidade e o insólito para descortinar, para o leitor, a pluralidade de vozes que conformam Moçambique em uma pósindependência que ainda clama por dias melhores. Nesa entrevista que, gentilmente, nos concede, o autor descortina para nós a condição do escritor em Moçambique, a situação do mercado de livros, a relação entre a escrita e a oralidade, a tradição e a modernidade, o passado e o presente do país e os limites de sua tradução nas diversas mídias com que atua em sua produção estética.
doi:10.5752/p.2358-3428.2019v23n47p215-220 fatcat:6hzbupjaibahbk5mlyhv77v3nm