Supressão de ritmo mu durante exposição a estímulos associados a ansiedade social

André Amado Ferreira de Mello, Renato Teodoro Ramos
2017 Revista de Medicina  
O chamado ritmo mu em eletroencefalografia é um padrão de oscilação caracterizado pelo domínio de frequências na banda de 8-13 Hz e 15-25 Hz. A inibição deste padrão de atividade tem sido associada a atividade de neurônios espelho em áreas motoras e pré-motoras do córtex cerebral. Neurônios espelho, por sua vez, têm sido relacionados à capacidade empática, capacidade esta que pode estar alterada na ansiedade social. O projeto teve como objetivo comparar os padrões de atividade cortical em
more » ... duos com níveis altos e baixos de ansiedade social durante a observação de uma cena capaz de gerar ansiedade social filmada em duas situações: em terceira pessoa (quando a capacidade empática deve ser evocada) e em primeira pessoa (quando apenas possíveis sentimentos de ameaça a si próprio devem ser evocados). O estudo envolveu 70 voluntários normais selecionados e, a partir da aplicação da escala de Liebowitz para avaliar ansiedade social e da escala EMRI para avaliação da capacidade empática, foram selecionados 16 voluntários, sendo 8 com os maiores escores nestas escalas e 8 com as menores pontuações. A análise inicial do traçado eletroencefalográfico de todos os voluntários não identificou padrões de distribuição de potência de ritmos alpha em regiões fronto-parietais, que poderia sugerir um padrão de atividade associada ao ritmo mu característico de neurônios espelho. No entanto, foi identificada uma diferença significativa na comparação entre padrões de atividade associados a observação dos vídeos em primeira e terceira pessoa (p = 0.007). Esta diferença foi também relevante em regiões occipitais, o que poderia estar relacionado à estimulação visual inerente aos estímulos apresentados. Portanto, não foi possível estabelecer uma correlação clara entre os traços de ansiedade social e empatia com uma possível atividade de neurônios espelho (por meio da inibição do ritmo mu). O estudo, porém, evidenciou uma diferença estatística significativa entre os padrões de atividade cortical associados à observação de cenas em primeira e terceira pessoa, independente dos traços ansiosos. Deve-se observar que o estímulo visual utilizado pode ter sido excessivo, induzindo atividades corticais ligadas à atividade perceptiva visual independente do significado ou do contexto que se procurou transmitir ao observador. O avanço da investigação da hipótese explorada neste projeto demandará novos estudos eventualmente incluindo pacientes com níveis clinicamente relevantes de ansiedade social e a simplificação dos estímulos utilizados.
doi:10.11606/issn.1679-9836.v96i4p254-263 fatcat:a3rm2dx7ajg4dgmcuzfjo3aphq