Cinema com Nancy doi:10.5007/2175-7917.2010v15n1p269

Artur De Vargas Giorgi
2010 Anuário de Literatura  
RESUMO Este trabalho parte do pensamento de Jean-Luc Nancy para armar um contato com o poema -Cinema‖, de Guilherme de Almeida (publicado em 1925, no livro Encantamento), e, de maneira mais ampla, com a própria técnica cinematográfica. Tal contato se desdobra ou passa inevitavelmente por dois outros: o cinema com a modernidade, o cinema com a guerra. Nesse sentido, a partir de -Cinema‖, a técnica cinematográfica, a modernidade brasileira dos anos 20 e a técnica belicista são vistas em alguns
more » ... tos de maior proximidade e mesmo de indissociação, mas também em oportunidades de distanciamento e recusa, em que experiências singulares tornam-se capazes de desfazer o consenso e de desarmar a guerra, de modo que o fechamento dos sentidos e o risco de extermínio se transformem em abertura e risco de vida, isto é, se transformem na vida que é colocada em jogo, sempre e novamente, por amor e combate, exposta em cada singularidade, em sua existência. PALAVRAS-CHAVE Jean-Luc Nancy; Cinema; Guerra; Contato. CINEMA WITH NANCY ABSTRACT This work starts from the thought of Jean-Luc Nancy to set up a contact with the poem -Cinema‖, of Guilherme de Almeida (published in 1925, in the book Encantamento), and, in a broader sense, with the cinematographic technique itself. This contact unveils or passes, inevitably, by two others: the cinema with modernity, the cinema with war. In this sense, starting from -Cinema‖, the cinematographic technique, the brazilian modernity in the 1920s and the war technique are seen in some points of closer proximity and even indissociation, but also in opportunities of distance and denial, in which singulars experiences become capable of undoing consensus and disarming the war, so that, shutting the senses and the risk of extermination are transformed into opening and risk of life, that is, are transformed into life that is brought into play, always and again, for love and combat, exposed in its singularity, its existence. Uma definição do homem, do nosso ponto de vista específico, poderia ser que o homem é o animal que vai ao cinema. Giorgio Agamben, O cinema de Guy Debord. Sozinha -Vá ao cinema. -Com quem? Francisco Alvim, Lago, montanha. No cinema está a história da arte. Em um exercício de atribuição errônea, é o que parece dizer Carl Einstein, logo no início dos seus Aforismos metódicos, de 1929: -La historia del arte es la lucha de todas las experiencias visuales, los espacios inventados y las figuraciones‖ (2009, p. 39). Pois no cinema (na montagem, no movimento) está o embate de uma imagem com outra, o cumprimento de uma aproximação entre as imagens que só faz apresentar-se no próprio espaçamento das imagens: aproximadas ao extremo, elas não se mesclam; antes se repelem, exigem distância e, assim compostas, quase unidas, permanecem totalmente separadas. São corpos em combate. Contudo, talvez seja melhor dizer: não -no cinema está o embate‖, mas o cinema é o embate, ou ainda, o cinema é no embate de uma imagem com outra. Ser no embate, isto é, ser no com: nesse espaço inventado, quem sabe o único possível para um contato, onde uma imagem está inteiramente implicada -dobrada em si, pregada em si -na exposição de si -e então, em certo sentido, explicada. Onde uma imagem exposta -colocada para fora, mas não como imagem que encerrava algo oculto (seu segredo, sua essência) que enfim se revela à vista, e sim como imagem que é exposição -onde uma imagem exposta, digo, se encontra, assim, inteiramente em sua propriedade: no desbordo do que caracteriza o ordinário da -sua propriedade‖, no movimento em direção ao exterior de si mesma, ou seja, no movimento de expropriação em que se apresenta toda a impropriedade do -próprio‖. Ou em outras palavras: nada mais próprio da imagem que a expropriação -expropriação que, dessa forma ou, mais precisamente, com essa força, tem a sua propriedade no ex, e não na -propriação‖, já que no ex não há propriedade alguma senão a apresentação dessa passagem para fora, o apresentar(-se), em contínuo lançamento para o com, o combate, a diferença. Nesse
doi:10.5007/2175-7917.2010v15n1p269 fatcat:vb4cy2c5evei5pt6r4qtfsutpu