Tempo passado e tempo presente

Regina Kohlrausch
2021 Letras de Hoje  
Recebido em: 04 maio 2021. Aprovado em: 04 maio 2021. Publicado em: 11 junho. 2021. "Tempo, tempo, tempo..., todo tempo é tempo, tudo tem seu tempo, el tiempo pasa, o tempo não para, dar tempo ao tempo, nada melhor que o tempo, tudo é uma questão de tempo..." É nessa perspectiva, dos idos tempos e dos tempos vindouros, que vamos passando por este novo tempo, o tempo presente, tempo de pandemia, de isolamento e distanciamento físico, na expectativa de um outro novo tempo, um tempo futuro,
more » ... melhor, mais bem aproveitado, quem sabe, em função da experiência deste tempo presente, que se quer, com urgência passado. Santo Agostinho, em Confissões, obra composta por 13 livros, que trata, conforme Leão (2001, p. 15), de "uma caminhada que não acontece somente dentro do homem, mas também diante dos homens", ao refletir sobre o tempo, pergunta-se: Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá apreendê-lo, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? (SANTO AGOSTINHO, 2001, p. 278). os tempos passados que já não existem ou os futuros que ainda não chegaram?" (2001, p. 281). Em outras palavras, "quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo. Quando, porém, já tiver decorrido, não pode perceber nem medir, porque esse tempo já não existe." (2001, p. 280). Na continuidade, ao refletir sobre os três tempos que se aprende na infância, o pretérito, o presente e o futuro, leva-o a concluir que "é impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das [coisas] presentes, presente das [coisas] futuras" (2001, p. 284). Conforme explica, existem, em sua mente, estes três tempos: "lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras" (2001, p. 284). Diz ainda que não se importa e não se opõe acerca da existência dos três tempos -pretérito, presente e futuro -desde que "se entenda o que se diz e não se julgue que aquilo que é futuro já possui existência, ou o que é passado subsiste ainda, já que poucas são as coisas que exprimimos com terminologia exata" (2001, p. 284). Mesmo falando sem exatidão, entende-se o que pretendemos dizer, conclui o filósofo. Na sequência, clamando ajuda para desfazer o enigma de mensurar aquilo que não existe, expõe que se fala "do tempo e mais do tempo, dos tempos e ainda dos tempos", que se anda constantemente, com o "tempo" na boca: Regina Kohlrausch Tempo passado e tempo presente: literatura e linguística
doi:10.15448/1984-7726.2021.1.40890 fatcat:n3bzsfksknbovmoecurndfx26m