Citologia anal para rastreamento de lesões pré-neoplásicas
Sidney Roberto Nadal, Edenilson Eduardo Calore, Luis Roberto Manzione Nadal, Sérgio Henrique Couto Horta, Carmen Ruth Manzione
2007
Revista da Associação Médica Brasileira
INTRODUÇÃO Dentre os vários agentes etiológicos que provocam doenças na região perianal de indivíduos HIV-positivo, o Papilomavírus Humano (HPV) é o mais comum. A maioria das infecções pelo HPV não tem qualquer conseqüência clínica, mas cerca de 10% dos pacientes desenvolverão verrugas, papilomas ou displasias 1 . É também descrita a possibilidade de progressão dessas displasias, ou neoplasias intra-epiteliais anais (NIA), para carcinoma invasor 2 e a maioria ocorreria na zona de transição do
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... nal anal 3 . O vírus, por si, não é suficiente para a carcinogênese, e a progressão tumoral, que ocorre em pequena porcentagem de indivíduos, pode ser estimulada por mutágenos químicos ou físicos 1 . Os fatores ligados ao desenvolvimento da NIA de alto (NIAa) e de baixo grau (NIAb), e à incidência elevada de recidivas dos condilomas, não estão completamente esclarecidos e a prevalência do HPV em lesões anogenitais de doentes HIV-positivo não é suficiente para explicar a grande proporção de NIAs neste grupo de enfermos 4 . RESUMO OBJETIVO. Avaliar se a citologia anal com escova pode servir para rastreamento das lesões clínicas e subclínicas provocadas pelo HPV. Métodos. Colhemos citologia anal, com escova, do canal anal de 102 doentes HIV-positivo com queixas proctológicas. Eram 86 homens e 16 mulheres com média etária de 37 anos. Destes, 33 negavam infecção pelo HPV, 14 haviam tratado verrugas, 28 tinham condilomas externos, sete apresentavam lesões internas e 20 os tinham em associação. O material foi enviado para exame de papanicolaou e coloração pela hematoxilina-eosina. Avaliamos as contagens de linfócitos T CD4+ para observar se o estado imunológico determinou as displasias mais avançadas. RESULTADOS. Somente um exame não pôde ser aproveitado. Os demais revelaram padrões celulares que variaram da normalidade até NIAa, incluindo a presença do HPV. Ocorreram 30 NIAs de baixo e 13 de alto grau em todos os grupos de doentes, com ou sem infecção pelo HPV. Em um dos doentes com NIAa e sem história prévia de infecção pelo HPV, e com úlcera no canal anal, a biópsia revelou carcinoma espinocelular invasivo. As médias de células T CD4+ nos portadores de NIA de baixo grau foi 281/mm³ e naqueles com NIAa foi 438/mm³. A análise estatística mostrou diferença significante, revelando que, ao contrário do esperado, displasias menos acentuadas acometem doentes com contagens menores de linfócitos T CD4+. Esse fato demonstra que a imunidade sistêmica isolada parece não interferir na gênese dessas lesões, sugerindo que aspectos da imunidade local devam ser estudados. A avaliação estatística feita com a tabela 2x2 revelou sensibilidade de 74% e especificidade de 61%. CONCLUSÃO. Acreditamos que a citologia anal possa servir para esse rastreamento, selecionando os doentes para colposcopia anal e biópsias. UNITERMOS: Infecções por Papilomavírus. Neoplasia intra-epitelial. Prevenção e controle. Canal anal. Citologia. Carcinoma de células escamosas. Sorodiagnóstico da Aids. Vários fatores estão associados à maior probabilidade de desenvolvimento de displasia nos condilomas acuminados perianais: prática de sexo anal e soropositividade para HIV 5-8 , imunodepressão 9 , fases avançadas da infecção pelo HIV 10 , lesões verrucosas acima da linha pectínea 7 , contagens de linfócitos T CD4 inferiores a 500/mm³ 9,11-13 , e tipo viral do HPV 1,14 . Entretanto, o tempo de aparecimento dos condilomas, tratamento tópico anterior e associação com outras doenças sexualmente transmissíveis não parecem representar fatores de risco 7 . Além disso, parece que o fator mais importante para o desenvolvimento do CEC anal é o tempo de infecção pelo HIV 15 . As NIAa são prováveis precursoras do tumor invasivo, com clara associação com os tipos de HPV de alto risco 16 . O risco de progressão pode estar ligado à severidade da NIA 17 e, embora não haja comprovação, o tratamento dessas lesões preveniria a progressão para carcinoma 16, [18] [19] [20] . NIA e câncer anal têm sido vistos com maior freqüência na junção escamocolunar, na linha pectínea 21 . Os fatores de risco entre os homens que praticam sexo com homens
doi:10.1590/s0104-42302007000200020
pmid:17568919
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