NOTA CIENTÍFICA
Revista Brasileira De Biociências, Porto Alegre, Rejane Gomes, Maria Célia, Bezerra Pinheiro
unpublished
Introdução A família Sapotaceae compreende aproximadamente 50 gêneros e 1000 espécies de hábito arbóreo e arbustivo, com ampla distribuição nas áreas tropicais e subtropicais do mundo [1] . As espécies são caracterizadas pela presença de látex geralmente branco em todas as partes da planta, folhas alternas e espiraladas, raramente opostas, agrupadas no ápice dos ramos. Suas flores são pequenas, geralmente de cores creme, amarela e esverdeada. Apresenta uma considerável importância econômica,
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... do utilizada na extração de madeira e de frutos comestíveis, destacando-se o abiu (P. caimito) [2] . A biologia da reprodução da família é pouco conhecida. Neste trabalho objetivou-se conhecer a biologia floral e a polinização de Pouteria venosa (Martius) Baehni (Sapotaceae) na restinga de Maricá-RJ. Material e métodos O estudo foi desenvolvido em populações de restinga, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá-RJ, nos anos de 2003 a 2005. A precipitação pluviométrica média anual é de 1130mm e a temperatura de 23,6ºC. As flores foram analisadas quanto à morfologia e à biologia, registrando-se as atividades referentes aos períodos de pré-antese, antese e pós-antese. A ocorrência de secreção lipídica sobre a exina dos grãos de pólen foi testada com Sudan III e o índice de viabilidade utilizando-se carmin acético. A presença de glândulas de odor nas flores foi detectada com solução de vermelho neutro. A concentração de açúcares no néctar foi medida com refratômetro de bolso Atago Hand Refractometer N1. O comportamento dos visitantes florais foi observado durante os períodos da manhã, da tarde e da noite, entre os horários de 1:00 às 24:00 horas, totalizando 48 horas de observação, e os mesmos foram classificados em polinizadores e pilhadores. A fenologia foi registrada em doze plantas. Resultados e Discussão A. Biologia Floral A floração de P. venosa é anual, regular e sincrônica, estendendo-se por cinco meses. Pouteria venosa apresenta caulifloria e suas flores estão reunidas em inflorescências fasciculadas (Fig. 1a) . As flores são perfeitas, odoríferas, nectaríferas e medem 15mm de comprimento. A corola é gamopétala, de cor verde claro, do tipo urna (Fig. 1c) , com seis lacínios e é revestida por papilas diminutas que deixam a sua superfície com aspecto aveludado. Os lacínios são levemente inclinados para a área central da flor, fato que restringe o acesso ao interior da corola nas flores em antese. Este acesso fica ainda mais reduzido com a exteriorização do estigma, que ocorre na manhã que antecede a abertura floral e caracteriza a condição de pré-antese. Nesta fase o estigma não está receptivo, de modo que sua simples exteriorização não indica protoginia para a espécie. Ainda na pré-antese ocorre o início da secreção do néctar e a deiscência das anteras. Diversas espécies de Manilkara, Sideroxylon (Bumelia), Chrysophyllum e Argania são consideradas protogínicas devido à exteriorização do estigma [3, 4] . Em M. subsericea e S. obtusifolium, também da restinga, a exteriorização é acompanhada de receptividade, fato não observado para P. venosa. O androceu é constituído por seis estames e seis estaminódios, dispostos alternadamente. Os estames são epipétalos, localizados na parte interna dos lacínios e nunca estão expostos (Fig. 1g) . Os estames circundam o estilete, formando um anel, que constitui um terceiro fator a restringir o acesso à flor. As anteras são rimosas e introrsas. O pólen apresenta pollenkitt e a viabilidade atinge 95% (N=384 grãos de pólen). A antese inicia-se por volta das 20 h e caracteriza-se pelo leve afastamento dos lacínios, que proporciona um espaço de 0,71mm (0,3 a 1) para o acesso dos visitantes florais ao néctar e/ou ao pólen. Além disso, ocorre a emissão de odor forte e desagradável, perceptível à longa distância e o estigma fica receptivo. Durante a antese a exteriorização do estigma fica acentuada em função de um crescimento do estilete de cerca de 3 mm . O estigma receptivo é úmido, lobulado e papiloso, contornado por papilas curtas, de paredes engrossadas, espalhadas pela superfície e papilas longas e finas localizadas entre os lóbulos. As características encontradas para o estigma de P. venosa também foram observadas em Mandhuca indica [5] . A área de recepção de pólen (estigma) localiza-se acima da área de doação de pólen (anteras) e ambas estão ainda separadas espacialmente pelos lacínios. Este fato foi interpretado como uma hercogamia. O estilete é revestido por papilas, semelhantes às que ocorrem na corola, e por Biologia floral de Pouteria venosa (Martius) Baehni (Sapotaceae) na restinga de Maricá-RJ
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