Cartografias, fugas e fluxos do pensar
Fabiane Olegário
2015
Revista Interinstitucional Artes de Educar
385 (jun -set 2015): "Educação e relações étnico-raciais" 372 CARTOGRAFIAS. FUGAS E FLUXOS DO PENSAR Fabiane Olegário i Trajetos cartográficos Leve, leve, muito leve, Um vento muito leve passa, E, vai-se sempre muito leve. E, eu não sei o que penso Nem procuro sabê-lo (Fernando Pessoa) Escritas traçadas pelos(as) alunos(as) que escapam facilmente, pois não se deixam capturar, quiçá porque se puseram a praticar exercícios de liberdade. Bailam sobre as mesas dos(as) alunos(as), habitam as portas
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... paredes internas dos banheiros dos(as) estudantes e das salas de aula. Infinidade de letras que agrupadas parecem querer saltar da porta, da parede e da mesa, e geralmente estão em tamanhos ousados; surgem na parede no fundo da sala e (ou) nas posições laterais da sala de aula e (ou) nos espaços internos da Escola. Devir-letras que parecem brotar no meio de uma atividade escolar, e faz com que lápis e canetas escrevam nos versos dos trabalhos avaliativos. Experiências de escrita que embarcam cheias de vida e cores, traçando novas potências do devir. Escolher a cartografia como um método que tem como base a experimentação é de certo modo "dar ao pesquisador, a possibilidade de acompanhamento daquilo que não se curva à representação" (AMADOR; FONSECA, 2009, p.30). Partindo da teorização de Deleuze e Guattari (1995), que formulam o conceito de cartografia, assinala-se que "se o mapa se opõe ao decalque é por estar inteiramente voltado a uma experimentação ancorada no real" (p.22). Mapa labirinto, com múltiplas entradas e saídas. Trajetos imprevisíveis. Cartografar, para Deleuze e Guattari, se configura como um procedimento de registro e análise que consiste em separar as linhas -linhas moleculares-das linhas que preservam a ordem instituída. A leitura de mapas, antes de ser uma leitura técnica de decalques naturais, sociais e culturais, é uma leitura de diagramas que produzem formas de ver o mundo historicamente construído (BENEDETTI, 2007) . "Numa cartografia, pode-se apenas marcar os caminhos e os movimentos com coeficientes de chance e perigo. É o que chamamos de 'esquizoanálise', essa análise das linhas, dos espaços, dos devires" (DELEUZE, 1992, p.48)
doi:10.12957/riae.2015.11720
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