MERCADO IMOBILIÁRIO E MERCATILIZAÇÃO DA NATUREZA EM SALVADOR E REGIÃO METROPOLITANA
Wendel Henrique
2011
Mercator : Revista de Geografia da UFC
Resumo Este artigo traz análise sobre o processo de produção e uso do espaço urbano relacionado com a comercialização da natureza pelos agentes do mercado imobiliário, tanto com capital nacional quanto internacional, em Salvador/BA e localidades da sua Região Metropolitana. Nossa pesquisa foca o período entre 2006 e o primeiro trimeste 2010 para elaborar uma base de dados sobre os lançamentos imobilários, a partir do material de propaganda destes empreendimentos na internet e jornais impressos.
more »
... Neste período, levantamos 363 empreendimentos, a maioria deles com uso de algum tipo de repesentação da natureza. A partir dos dados, elaboramos mapas com a localização, preço e empresas responsáveis pelos empreendimentos. Esta estatégica promoção de uma vida em comunhão com a natureza, tem promovido um uso desigual dos espaços internos da cidade, aumento as densidades em áreas como a Pituba, Iguatemi e Avenida Paralela ou na zona atlântica de Lauro de Freitas, Camaçari e Mata de São João. Nas área onde não há interesse do mercado imobiliário a natureza é apenas um problema e não uma solução para aumentar o valor dos imóveis. Palavras-chaves: Mercado imobiliário, natureza, Salvador. Abstract This article is an analysis about the process of production and use of urban space related with the commercialization of nature by the real estate agents, with national and international capital, in Salvador and other localities in its Metropolitan Area. Our research focus the period of time between 2006 and the fi rst trimester of 2010 and we started our database about the new features launched by the enterprises with the advertisement material about these building and condominiums at the internet and newspapers. During this period we found 363 projects and most of them have some kind of relations with some representation of nature, and we elaborated some maps with the localization, price and enterprises of these properties. In this strategic promotion of a life within nature, we observe a uneven use the urban space are increasing the density of some specifi c areas, as Pituba, Iguatemi e Paralela in Salvador and the coastal zone of Lauro de Freitas, Camaçari and São João. The areas with no interest by the real estate agents keep on the margin of the process and there the nature is just a problem and not a solution to increase the prices of condominiums. Resumen Este artiulo es un análisis sobre el proceso de producción y usa del espacio urbano relacionado com la comercialización de la naturaleza por los agentes de lo mercado de biens inmuebles, com el capital nacional y internacional, en Salvador de Bahia y otras localidades en su Área Metropolitana. Nuestra investigación se centra el período de tiempo comprendido entre 2006 y el primer trimestre del 2010 y empezamos nuestra base de datos sobre los nuevos inmubles lanzados por las empresas con el material de publicidad acerca de estos edifi cios y condominios en la internet y prensa.Durante este período se encuentran 363 proyectos y la mayoría de ellos tienen algún tipo de relación con alguna representación de la naturaleza, y hemos elaborado mapas con la localización, el precio y las empresas respnsables por estas inmuebles. En esta promoción estratégica de una vida con la naturaleza, se observa un uso desigual del espacio urbano que tiene incrementado la densidad de algunas áreas específi cas, como Pituba, Iguatemi e Paralela en Salvador y la zona costera de Lauro de Freitas, Camaçari y Mata de São João. Las áreas dónde los agentes del mercado de bienes inmuebles no tienen interés están en la margen del proceso, la naturaleza es sólo un problema y no una solución para aumentar los precios de los inmuebles. e Mata de São João, extensas áreas, muitas delas com remanescente de Mata Atlântica, presenças de lagoas ou lagunas, são foco de ação de grandes incorporadas imobiliárias, com uma considerável parecela de capital estrangeiro, na promoção e construção de loteamentos e condomínios (muitos na verdade apenas loteamentos, mas que são vendidos como condomínios, sem ter a regulamentação específi ca), com forte apelo as diversas formas de representações da natureza. Em sua grande maioria, os empreendimentos estão associados à uma idéia de natureza primitiva, a qual se torna sinônimo de qualidade de vida e transforma-se em valor econômico, aumentando os preços dos apartamentos, casas e edifícios, conforme já destacado por Henrique (2006 e 2009). No caso de Salvador, a vista (mar); a localização (notadamente na Avenida Paralela como uma distância dos bairros mais populares e proximidade com a praia, não necessariamente em frente praia) e a infra-estrutura (viabilizada pelo Estado), atraem os investimentos do mercado imobiliário criando na cidade, espaços 'luminosos' do ponto de vista técnico-científi co-informacional, na conceituação de Santos (1999) . Na Avenida Paralela encontramos vários empreendimentos imobiliários, como os conjuntos de imóveis verticais e horizontais do Alphaville I e II e o Le Parc, este com 18 torres de apartamentos em uma área de 100mil m², que alia a idéia da natureza, presente até no nome em francês do empreendimento, com as inúmeras possibilidades de lazer que serão oferecidas, fazendo com morador desfrute de todas as atividades de um resort sem sair de casa. Além destes empreendimentos, outros associam a idéia do condomínio com um bairro, vendendo inclusive a idéia do 'bairro [condomínio] que já nasce nobre'. Estes grandes condomínios valorizam, ao menos simbolicamente e com certeza economicamente a natureza, mas negam a cidade e, principalmente o bairro como local privilegiado para a vida e para o cotidiano urbano, com suas ruas e praças apropriadas, comércios conhecidos e utilizados rotineiramente onde a vida é pautada pelo encontro com os demais moradores, com suas vidas públicas e privadas se misturando na formação de uma identidade do bairro e em um sentimento de pertencimento. Nestes condomínios a população passa a ser praticamente homogênea, nos aspectos econômicos, culturais, sociais, políticos, etc. O condomínio acaba por criar uma territorialidade ocupada momentaneamente por um grupo específi co que se diferencia pelas suas formas de viver e de vestir--se. Espaços específi cos, ocupados por um determinado grupo (ou tribo), defi nidos basicamente por características estéticas, econômicas e de gênero. Territorialidades urbanas de grupos de ecologistas, de punks, de roqueiros, de gays, de feministas, de solteiros, de grupos de esquerda, de direita, de artistas, de empresários, de mauricinhos e patricinhas, de surfi stas, de estrangeiros ou de outras denominações trendies (na moda). Na supervalorização da natureza, real e simbólica, e de determinados setores e bairros das cidades, instauram-se em alguns casos processos de requalifi cação e gentrifi cação do espaço urbano, onde todos os prazeres nos nichos específi cos do mercado imobiliário se dão na órbita da acumulação, dentro de uma racionalidade capitalista (HARVEY, 2001) . Na comercialização da natureza, os objetos e as idéias vinculam-se as atividade fi nanceiras e acabm por impregnar os empreendimentos imobiliários com um valor exclusivo em função da raridade da natureza, especialmente as áreas verdes, na cidade. Desta forma, não é algo meramente acidental, que inúmeros empreendimentos imobiliários tragam em suas denominações as palavras privilégio e exclusivo, inclusive com suas traduações para inglês e francês. Estes nichos de mercado, os quais são explorados a partir da mobilização dos desejos e na sua pseudoexclusividade, isto é, negando seu acesso a todas as pessoas. Do ponto de vista geográfi co, defi nem-se territórios excludentes.
doi:10.4215/rm2011.1021.0004
fatcat:572e3kct75dfvmufr5pdr7k5qi