O que resta da experiência: Um ensaio sobre duas cenas do grupo Ambulatório-UFSJ

Cláudio Guilarduci, Mauro Rocha Baptista
unpublished
1. A experiência no resto Oh! meu grande bem Só vejo pistas falsas É sempre assim Cada picada aberta me tem mais Fechado em mim 1 Na literatura acadêmica contemporânea, é recorrente a referência à perda da possibilidade de uma experiência autêntica ante o frenético ritmo da vida atual. Para alguns isso é sinônimo da liquefação das relações 2 , como se nada mais pudesse ser segurado com firmeza e nenhuma ligação social fosse construída de forma duradoura. Ou, como se a própria possibilidade de
more » ... rmeza tivesse sido perdida ante a velocidade com que as coisas precisam se suceder guiadas pelo relógio da fábrica. A partir deste pensamento, é possível observar que a experiência se perde na necessidade capitalista de cronometrar e tornar funcional cada passo da vida. Em outra abordagem, o grande problema é a espetacularização dos acontecimentos e como, através da apresentação espetacular, os verdadeiros significados são escondidos pelos holofotes. Quanto mais as coisas são reveladas sob as luzes da teatralização da vida real, tanto mais as relações reais são relegadas a espaços e tempos cada vez mais reduzidos. O espetáculo que inviabiliza a experiência autêntica foi constatado por Guy Debord (1997) tempos antes das redes sociais recriarem o significado do que é vivenciado diariamente e definirem como necessidade última a noção maquiavélica de que não basta ser é necessário parecer ser (Maquiavel, 1999). Neste contexto espetacularizante, aquilo que aparece é mais importante do que aquilo que é de fato. Por fim, existem aqueles que consideram que se chegou a um termo em que não é mais possível qualquer experiência (Agamben, 2008). Uma consideração que, a um só tempo reúne a 1 Disco: Ária (Djavan, 2010). Música de Caetano Veloso e Beto Guedes. Interpretação, Produção e Arranjo de Djavan. Gravadora Biscoito Fino. 2 Pensamento embasado, sobretudo, em Zygmunt Bauman (2001), mas cujas raízes remetem à afirmação marxista, difundida por Marshall Berman (2001), de que "tudo que é sólido se desmancha no ar".
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