ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS ESTABELECIMENTOS RURAIS FAMILIARES NOS MUNICÍPIOS DE GOIÁS [chapter]

Érica Basílio Tavares Ramos, Valquíria Duarte Vieira Rodrigues, Graciella Corcioli, Karolino Torres Quintanilha
2022 Ciências agrárias: a multidisciplinaridade dos recursos naturais  
As atividades agrícolas e não agrícolas têm sido uma pauta de discussão importante no contexto histórico e social do meio rural brasileiro. Silva (1997) percebe que o meio rural não é sinônimo de agrícola, pois não é possível caracterizá-lo sendo somente agrícola, uma vez que outras variáveis são inseridas como atividades rurais não agrícolas, que ocupam espaço nas áreas rurais. As atividades não agrícolas surgem como uma nova forma de rendimento agrícola, pois muitas famílias dependem,
more » ... amente, dessas atividades para poderem sobreviver (CRUZ et al., 2018) . Klein (1992) argumenta a existência de três hipóteses que explicam a evolução das atividades rurais não agrícolas. A primeira está relacionada à distribuição geográfica e demográfica da população em um território, que pode variar de um país a outro. A segunda, a tecnologia voltada à agricultura, que permitiu maior crescimento dos serviços auxiliares às atividades agrícolas; e, a terceira, que retrata o desenvolvimento do mercado de trabalho agrícola e não agrícola. Na visão desse autor, a evolução dessas atividades agrícolas e não agrícolas indica que a estrutura do emprego rural não agrícola está se tornando cada vez mais similar ao mercado de trabalho urbano. Na região nordeste, por exemplo, a população ocupada nas atividades agrícolas e não agrícolas corresponde a 37% e 39%, respectivamente, entretanto, é uma região que continua sofrendo com problemas históricos relacionados à má distribuição da renda, a seca, a fome, a pobreza, que atingem boa parte da população. No Piauí, a agricultura é caracterizada pela predominância de pequenos agricultores, com base familiar e, tecnologicamente, sem correlação com os padrões modernos de produção, sendo considerado o segundo estado, depois do Maranhão, com maior índice relativo de população rural, cujo percentual é 41,8%, por outro lado, observa-se a ocorrência de um crescimento importante das atividades não agrícolas no meio rural piauiense. Diante desse contexto e dada a importância das atividades agrícolas e não agrícolas para o desenvolvimento do meio rural brasileiro, especialmente no Piauí, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a evolução do grau de concentração das atividades agrícolas e não agrícolas nas microrregiões do Piauí no período de 2000 a 2019. Para alcançar esse objetivo, foi mensurado o grau de concentração dessas atividades nas microrregiões piauienses, com base nos dados disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). MÉTODO Esta pesquisa analisou o grau de concentração das atividades produtivas agrícolas e não agrícolas nas microrregiões do Piauí no período de 2000 a 2019, através da aplicação do Índice Razão de Concentração e do Índice de Herfindahl-Hirschman. Neste sentido, buscou identificar as atividades produtivas agrícolas e não agrícolas que mais se concentraram nas microrregiões do Piauí, e para uma melhor interpretação e aprofundamento da pesquisa, considerou-se como referência os principais autores que abordaram a metodologia utilizada na pesquisa, além de especificar e detalhar os índices que foram utilizados para análises dos dados. CONCENTRAÇÃO DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS E NÃO AGRÍCOLAS Kon (1994) enfatiza que a concentração industrial é um problema para o mercado competitivo, pois com a grande concentração de um número pequeno de grandes firmas, essas empresas são levadas a agirem de forma interdependente no que tange à tomada de decisões sobre o preço, a produção e assuntos correlatos. Trazendo isso para o lado da concentração de atividades agrícolas e não agrícolas, para a autora, existem alguns fatores que contribuem para o aumento do nível de concentração dessas atividades, destacam-se: o crescimento interno das atividades agrícolas e não agrícolas existentes, que afeta e pode diferenciar o tamanho da empresa; as fusões e outras formas de concentração de diferentes atividades agrícolas e não agrícolas em uma propriedade comum; o declínio do tamanho do mercado para um produto determinado, quando as atividades maiores estão mais aptas para sobreviver. Por outro lado, as características de mudança do grau de concentração em uma indústria, faz com que as diferenças na margem de lucro entre firmas de uma mesma indústria influenciam fortemente esta concentração. Essas diferenças são um problema de longo prazo para o progresso técnico, com as consequentes reduções de custo. O aumento do grau de concentração, ocorrerá se a taxa de acumulação dessas firmas "for de tal ordem que empurre a sua expansão além da taxa de expansão da indústria como um todo" (STEINDL, 1983 apud KON, 1994). No entendimento de Ney e Hoffmann (2009), o termo concentração agrícola pode ser interpretado de várias formas, sendo a principal delas diretamente relacionada à desigualdade de renda na agricultura, esta, por sua vez, tem como principais fatores para essa desigualdade a distribuição da posse de terra, o perfil educacional da população e as desigualdades inter-regionais. Esses fatores são importantes para saber o grau de concentração de renda da população agrícola. Piauiense concentra: algodão, arroz (em casca), cana-de-açúcar, feijão (em grão), mandioca, milho (em grão) e soja (em grão). O CR4 apresentou, ao longo do período analisado, variações consideráveis. Em 2002, por exemplo, o CR4 apresentou 84,86% de concentração, o menor grau de concentração ao longo do período, entre 2002 a 2005, o índice cresceu e decresceu entre os períodos, e se manteve até 2019, em que revelou o nível mais alto de concentração, 91,86%. No entanto, o CR8 apresentou variações mínimas ao longo do período, sendo observado nos anos de 2000 a 2002, uma queda de 0,8% na concentração de atividade agrícola. Além disso, observou-se que durante todo o período analisado, o CR8 cresceu aproximadamente 1,37%, enquanto que o CR4 cresceu 6,27% de concentração das atividades agrícolas. O Gráfico 3 mostra os rendimentos médios da produção das atividades agrícolas, analisando o grau de concentração dessas atividades agrícolas, conforme se observa a seguir: Gráfico 3: Grau de concentração das atividades agrícolas nas microrregiões Piauienses no período 2000-2019 Fonte: elaboração própria com base nos dados do PAM/IBGE (2021). Os índices de concentração mostraram variações semelhantes. O CR4 e CR8 apresentaram 72,78% e 92,91%, respectivamente, de concentração das atividades agrícolas em 2000.
doi:10.37423/220706258 fatcat:ewid53qymzalfnv5hs5okmvs4i