SIMÕES, Soraya Silveira; SILVA, Hélio R. S. Silva e MORAES, Aparecida F. (orgs.). Prostituição e outras formas de amor. Niterói: Editora da UFF. 552pp

Franz Arnaldo Cezarinho
2017 Campos - Revista de Antropologia Social  
Prostituição e outras formas de amor é uma coletânea com dezenove artigos, dividida em quatro partes, organizada por Soraya Simões, Hélio Silva e Aparecida Fonseca. A coletânea descende de três grupos de trabalhos por meio de eventos científi cos. Os eventos foram: a 27ª Reunião Brasileira de Antropologia -2010, em Belém; XII Congresso Luso-Afro-brasileiro em Salvador -2011 e em São Paulo na 28ª Reunião Brasileira de Antropologia -2012. Embutido no livro há um DVD com o documentário "Um beijo
more » ... ra Gabriela" no qual exibe, etnografi camente, o processo eleitoral em que a ex-puta e militante Gabriela Leite, que defendia os direitos das prostitutas, se candidatou a deputada federal do Rio de Janeiro em 2010, tendo como uma das cenas etnográfi cas mais marcantes o seu relato de que o pastor, após reunião no Conselho Federal de Teólogos, disse-lhe que conseguiria muitos votos, mas que tal negociação pressupunha dinheiro. Esse episódio revela-nos um pouco dos meandros aéticos do jogo político. Apesar de homenagear Gabriela Leite, o objetivo da coletânea é trazer novos dados empíricos e teóricos num debate recorrente envolvendo a academia, os movimentos sociais e as arenas do Estado. Dentro dessas discussões implicam-se questões associadas às doenças, tráfi co e exploração de seres humanos, objetifi cação da mulher, programas de assistência, dentre outras. Descortinar o meretrício é compreender práticas, sentidos e estratégias de quem se prostitui, imergindo na realidade desses grupos historicamente marginalizados, dos quais vozes foram caladas e memórias compartimentadas. O que os/as autores/as fazem é mostrar a prostituição através das lógicas cognitivas dos próprios sujeitos inseridos nessas interações. Outrossim, não se pode esquecer que essas mulheres e homens que trabalham sexualmente com o corpo são cidadãos e cidadãs com os mesmos direitos que qualquer outro/a. São pessoas que amam, desejam, choram, sorriem, brigam, sentem prazer e possuem memórias. No desafi o de compreender a Prostituição e outras formas de amor é preciso, primeiramente, desconstruir o discurso hegemônico que atribui a essa prática características degenerativas e preconceituosas. A Parte I -Políticas: A construção dos discursos investiga em vários campos sociais a representação da prostituição evidenciando os vários argumentos do debate citado acima. No século XIX o modelo biomédico de saúde instituiu um tipo de mulher que, "naturalmente", nasceu para procriar e ser mãe.
doi:10.5380/cra.v17i1.43335 fatcat:523udgxojravrb5nlo3mrh7hwq