Luiz Vilela - O filho de Machado de Assis
Pauliane Amaral
2018
Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea
Em entrevista concedida recentemente, o escritor Luiz Vilela, discorrendo sobre a escassa recepção da obra dos colegas Roberto Drummond, Oswaldo França Júnior e Wander Piroli, diz: "É triste, o escritor morre e vem logo o esquecimento" (Vilela, 2017, s.p.). Tal afirmação, no entanto, é oposta à premissa de sua mais recente novela, O filho de Machado de Assis (2016), cujo argumento central da narrativa sugere que um grande autor não só pode continuar vivo através de sua obra, como também dar
more »
... em a um culto à sua figura, ressuscitada de tempos em tempos por outros escritores (como o faz o próprio Vilela no livro em questão) e pelos estudiosos e críticos da área. Há pouco tempo, o escritor e crítico literário Silviano Santiago (2016) também lançou um romance ensaístico sobre o Bruxo do Cosme Velho, intitulado Machado. Em sua resenha, Davi Andrade Pimentel indica que o livro de Santiago "se deseja ao mesmo tempo ensaístico, historiográfico, ficcional e com pinceladas de crônica de costumes" (Pimentel, 2017, p. 307). Nesse sentido, a novela de Luiz Vilela é mais convencional quanto à forma e seu objeto é a reflexão sobre a compreensão romântica do autor como gênio intocável, um ser sagrado. A obra desenvolve temas machadianos como a relação entre a loucura e a literatura, e o uso da ironia como força propulsora da crítica de costumes. A loucura, por exemplo, evidencia-se em dois pontos significativos da novela: no histrionismo do professor Simão, o protagonista cujo nome faz referência à personagem machadiana de Simão Bacamarte, em O Alienista (1882); e em uma analepse em que Mac -aluno de Simão e narrador da novela -recorda a história de outro professor seu, chamado Padre Ludovico (Vilela, 2016, p. 23-27), que acabou internado em uma clínica para doentes mentais. Essas são pistas que podem levar o leitor a desconfiar da veracidade da descoberta de um suposto filho Machado de Assis -elemento central de toda a narrativa. Em uma de suas falas, Professor Simão revela que não pode duvidar do sujeito que falou sobre
doi:10.1590/10.1590/2316-40185425
fatcat:ukmmce2qojbhdjt3d5hs57o3si