A Importância da Abordagem Multidisciplinar da Hemorragia Uterina Anormal em Adolescentes: Uma Oportunidade de Diagnóstico
Sofia Teixeira, Manuela Carvalho, Inês Machado, Diana Gonçalves, Carmo Koch
2021
Acta Médica Portuguesa
os distúrbios hemorrágicos congénitos (DHC) são identificados como a segunda causa mais frequente de hemorragia uterina anormal (HUA). Este facto faz com que a abordagem à hemorragia uterina anormal seja também um momento crucial na identificação das doentes com DHC. Deve ser tido em consideração que os DHC estão presentes em cerca de 10% -17% das mulheres e que esta percentagem é maior em adolescentes com HUA. 2 Sendo estas patologias de transmissão genética, o diagnóstico implica não só, a
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... nte afetada, como a identificação de outros membros da família. Além disso, o diagnóstico destes DHC permitem uma melhor gestão das possíveis complicações hemorrágicas destas doentes, diminuindo morbilidade e mortalidade, tomando atitudes preventivas de hemorragia no que diz respeito a procedimentos invasivos, cirurgias, parto e puerpério. É importante considerar que as mulheres afetadas com DHC não têm uma maior probabilidade de doença ginecológica do que a população feminina em geral, mas apresentam um maior risco de desenvolvimento de complicações hemorrágicas na doença ginecológica. 3 Todavia, apesar de as doentes com DHC apresentarem HUA frequentemente, esta não é uma causa frequente de referenciação para a consulta de coagulopatias congénitas pela suspeita de DHC. Deve ter-se em consideração que muitos casos de HUA são, numa primeira fase, abordados em contexto de Cuidados de Saúde Primários e que a melhoria da sintomatologia com contracetivos orais pode levar a que não seja prosseguido o estudo e, desta forma, as doentes acabarem por ser encaminhadas, só mais tarde, por outro evento hemorrágico, protelando assim o diagnóstico. Sendo assim, reveste-se da maior importância haver uma sensibilização e alertar para a possibilidade deste diagnóstico, em adolescentes com hemorragia uterina anormal. É importante explorar, na história clínica, antecedentes de hemorragia na doente e familiares, com particular atenção à necessidade de quantificar a hemorragia de forma clara, pois muitas vezes estes sintomas são desvalorizados pelas doentes por acharem que na sua família estes sintomas são habituais. 4 Existe também um papel importante na prevenção destas hemorragias uterinas anormais em doentes com diagnóstico já estabelecido de um distúrbio hemorrágico, sendo que a estas deve ser oferecida a possibilidade de avaliação e aconselhamento, previamente à menarca, e terem um plano terapêutico para a possibilidade de existência de HUA na menarca ou posteriormente. 5 A abordagem multidisciplinar é essencial desde o primeiro momento e no seguimento das doentes com história de HUA. REFERÊNCIAS 1. Ramalho I, Leite H, Águas F. Hemorragia uterina anormal em adolescentes: uma abordagem multidisciplinar. Acta Med Port.
doi:10.20344/amp.16449
pmid:34715957
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