Novos significados da mobilidade
Eduardo Marandola Jr.
2008
Revista Brasileira de Estudos de População
Tim. On the move: mobility in the modern western world. New York: Routledge, 2006. 327p. A mobilidade é um dos fenômenos mais importantes da sociedade contemporânea. Trata-se de elemento fundamental da dinâmica demográfica e de interesse direto de vários pesquisadores, pois congrega uma série de fenômenos imprescindíveis para compreender as transformações no mundo atual. A mobilidade -meio utilizado para acessar outros serviços ou bensocupa hoje posição de atora dos processos. Migrar não é mais
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... simplesmente fugir, sendo que os deslocamentos pendulares, transnacionais e de curta duração em grandes distâncias têm tido impactos cada vez mais significativos na dinâmica socioespacial contemporânea. Apesar disso, a mobilidade só há pouco tempo tem sido abordada de forma mais ampla, dissociando-a de uma mera componente quantitativa de mensuração de fluxos de A para B. O fenômeno da mobilidade envolve uma série de fatores e processos distintos que estão, ao mesmo tempo, na base estrutural do sistema produtivo e no cotidiano vivido das pessoas, englobando todo o sistema de transportes e a gestão pública desses espaços, passando pela forma urbana, as interações espaciais até as dinâmicas demográficas específicas (estrutura familiar, migração, ciclo vital). Urge um olhar mais amplo sobre a mobilidade, que não a associe de forma direta e rasteira ao deslocamento físico, mas que lhe conceda os atributos de um fenômeno propriamente dito. O livro do geógrafo Tim Cresswell, On the move: mobility in the modern westrn world, editado pela Routledge, em 2006, busca realizar tal ambicioso intento. É um dos mais completos estudos recentes sobre o fenômeno. O autor não faz uma análise descritiva de tipos de mobilidade ou de formas e padrões de mobilidade, mas mergulha no fenômeno em busca de suas correlações e seu significado atual. O itinerário intelectual de Cresswell na temática inicia-se com sua dissertação de mestrado, defendida em 1986, analisando as metáforas da mobilidade nas letras de Bob Dylan. Sua tese avançou sobre as metáforas na cultura popular norte-americana, mergulhando assim nos significados da mobilidade enquanto estilo de vida no país que inventou a mobilidade contemporânea, via automóvel. Com a importância crescente da mobilidade desde meados dos anos 90, quando tornouse um "paradigma", o autor investe no tema agregando elementos em busca de uma leitura mais ampla da mobilidade e de suas principais questões atuais. O livro tem nove capítulos nos quais Cresswell explora, de forma muito inventiva e criativa, alguns aspectos da mobilidade atual, desde os home offices, os direitos de mobilidade, as mobilidades imigrantes e as mobilidades nos aeroportos. Há capítulos que discutem ainda a captura da mobilidade pela fotografia, além da dança enquanto mobilidade. O primeiro capítulo é aquele que traça o itinerário de leitura, procurando uma reflexão epistemológica sobre o significado da mobilidade e suas possibilidades analíticas. A produção da mobilidade é entendida pelo autor como bifacial: uma face corporal e outra social. Dissociando a idéia da mobilidade como mero movimento, Cresswell se afasta de uma metáfora muito ampla para a mobilidade (de capitais, mobilidade social etc.), enfatizando aquela realizada por pessoas e grupos. O movimento ou deslocamento é o processo que leva corpos de A para B. A mobilidade é mais ampla, pois é social, envolve estruturas, meios, cultura e significado.
doi:10.1590/s0102-30982008000100013
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