TRABALHO E ESCOLA: UMA TRAJETÓRIA DE VIDA*

São Perspectivas, Paulo
1981 unpublished
RESUMO: O presente trabalho encaminha a análise das relações escola/trabalho, através da apre-sentação da prática escolar dos alunos do período noturno de uma escola estadual de primeiro grau. UNITERMOS: Escola noturna; relações escola/trabalho. 1. INTRODUÇÃO As razões da existência dos cursos noturnos bem como as de seu funciona-mento, precisam ser procuradas fora da escola, já que o trabalho dos meninos e sua escolarização à noite fazem parte da presente trajetória de vida da família das
more » ... es trabalhadoras. O trabalho infantil é necessário para a reprodução social da família e essa necessidade não pode ser sa-tisfeita com soluções acadêmicas ou buro-cráticas. Apesar da quase impossibilidade de conciliar as duas atividades, os meni-nos persistem, ignorando os sucessivos fracassos escolares, embalados pela cren-ça de que a escolarização poderá melhorar suas condições profissionais e portanto de sobrevivência. Na impossibilidade de transcrever in-tegralmente os estudos realizados, opta-mos por apresentar o capítulo referente à prática escolar, pois foi através da análise da representação que os alunos fazem do professor, do cotidiano escolar e do signi-ficado do conteúdo da aprendizagem é que chegamos a perceber melhor alguns problemas da relação entre escola e pro-cesso produtivo, tema central de nossa dissertação. 2. A PRÁTICA ESCOLAR a. O cotidiano escolar Ao analisarmos os questionários, aplicados, constatamos grande dificulda-de no relato do dia-a-dia escolar: "não há muito o que descrever: Eu venho, assisto às a ulas e vou em bora". Nenhum aluno descreveu ordenada-mente a rotina escolar; quase todos tece-* Este artigo foi extraído da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Uni-versidade de São Carlos, em janeiro de 1981, sob o título: A ilusão da escola e a realidade do trabalho: o ensino noturno de 1grau de uma unidade escolar de Ribeirão Preto. A dissertação questiona as condições reais do funcionamento dos cursos noturnos a nível de 1." grau, as razões de sua existência, as relações entre escolas e atividades produtivas, principalmente quanto o aluno já é um trabalhador. Tomou-se como referencial empírico do estudo de caso o período noturno de uma escola estadual de primeiro grau de Ribeirão Preto, São Paulo. A coleta de dados realizou-se de setembro de 1978 a junho de 1979, sendo a fonte básica de in-formações o discurso dos alunos e integrantes do curso noturno, apreendido através de observação direta sistemática, ques-tionários e entrevistas pessoais. Concentramos nossa atenção no período noturno, onde obtivemos resposta a 167 questionários e realizamos 50 entre-vistas gravadas com alunos, com idades variando de 12 a 20 anos, além de entrevistas com o pessoal docente, administrativo e auxiliar. Na realização do trabalho contamos com o auxílio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia, CNPQ.
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