Joaquim Barradas de Carvalho
Carlos Guilherme Mota
1994
Estudos Avançados
de Carvalho (1920de Carvalho ( -1980 talvez tenha sido o professor estrangeiro que mais deixou marcas de sua passagem por esta cidade. Barradas amava São Paulo. Foi um intelectual que nos ensinou a pesquisa à lupa, o rigor da escrita, os clássicos. Foi no Brasil, em compensação, que se revelou excelente professor: antes, jamais lecionara. Por seu intermédio, conhecemos, enquanto História viva, as idéias de Jaime Cortesão, de Magalhães Godinho, de Antônio Sérgio, de tantos outros geniais
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... es e pensadores portugueses. E entramos em contato com a crítica -gentil e informada -aos estudos de Ameal e de outros menos apreciáveis, que faziam parte de nosso ingênuo currículo universitário. Espírito anti-acadêmico, anti-ortodoxo, filho de família tradicional alentejana, descendente do Conde das Galvêas e de Camões, Barradas soube cultivar como ninguém a crítica, temperada sempre pela amizade e empenhada cordialidade, que estendia até mesmo a eventuais oponenetes políticos. Só uma coisa o aborrecia efetivamente: o reacionarismo de alguns de seus compatriotas, cujo comportamento retrógrado empurrou Portugal para o atraso e a melancolia. Daí ter encontrado na vida agitada de São Paulo um clima intelectual e político em que pôde desenvolver suas potencialidades. Tornou-se um paulistano da melhor qualidade: pensava mesmo que se um dia se articulasse um Bloco Luso-Afro-Brasileiro, a capital deveria ser São Paulo... Após a Revolução dos Cravos, o Jornal do Brasil dedicou dois ou três editoriais à utopia barradeana. Barradas nasceu no dia 13 de junho de 1920 em Arroios, no Alentejo, cujo céu, como diz a canção, não tem sombras (exceto as que vêm do céu). Sua cor morena não deixava dúvidas quanto ao sangue árabe que lhe corria nas veias. Era o filho mais velho de Manuel Teles Barradas de Carvalho e de Lubélia Godinho Braga Barradas de Carvalho. Nessa família aristocrática, filho de um pai também escritor (autor de Terracampa) e monarquista ilustrado, criou-se uma das personalidades portuguesas mais generosas, abertas, simples e firmes do século XX.
doi:10.1590/s0103-40141994000300037
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