'Quando nasce um bebê, nasce também uma mãe?' : maternidade e reprodução humana assistida em mulheres laqueadas
[thesis]
Claudia Valença Fontenele
SÃO PAULO 2010 SÃO PAULO 2010 Agradecimentos Este trabalho foi possível porque, antes, houve encontros: com os clássicos e autores do mundo acadêmico, com as mulheres e suas histórias, com os profissionais do hospital, com os professores, com os amigos que contribuíram com suas "visões de mundo", com cinema, jornais e revistas semanais que não se furtam de tratar dessa temática de um ou outro modo. Todos estão de modo explícito ou implícito nas linhas e entrelinhas dos capítulos. Além dos
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... ros, os afetos, apoio e colaboração de muitas pessoas, num período que vai além dessa temporada de doutorado. É sabidamente difícil nomear todas elas, ainda assim sou agradecida pelos bons encontros e pelos bons momentos. À Ana Cristina Tanaka, pela acolhida, generosidade, por promover autonomia, confiança, pelas orientações que tive nesse doutorado. À Irlys Barreira, pela disponibilidade, sempre, em contribuir para meu crescimento intelectual e humano. Ao professor Everardo Nunes e à professora Augusta Alvarenga pela participação e valiosas sugestões desde a banca de qualificação. À professora Simone Diniz pelas sugestões de leitura e otimismo, assim como pelos intermináveis almoços no Coseas seguido de café com troca de ideias recheadas de consonâncias e divergências. À Marie Jaisson pela acolhida, carinho, generosidade e confiança, enfim... Pelas orientações que vão muito além dos trabalhos do doutorado. À professora Celeste Cordeiro que sempre, sempre estava lá. Mesmo nos últimos minutos do segundo tempo... Às mulheres desse estudo: disponíveis, generosas, cheias de graça e suavidade, tais quais as flores que serviram para nomeá-las. Aos professores da FSP e ao pessoal da secretaria do departamento: Iara, Leandro e Lívia que, ao que parece, alçou outros novos voos. Aos colegas que fui encontrando no percurso do doutorado, Carlos Severo, Marcia, Claudia Pedrosa e amizade da Laura Mattar e da Flavia Benevenuto. Ao Rene Bezian cujo afeto, atenção e carinho vão além, muito além dos encontros que tivemos para aprimorar o francês. À Sílmia Sobreira, pela promoção constante de potência. Às amigas de perto Malu Meireles, Ana Teresa Cruz e Valéria Zanotti que, além das risadas e bons momentos, de um ou outro modo, me deram colo e incentivo nas horas em que a coragem oscilava. E, em especial, à Adriana Domingues, que estava sempre disponível para conversar a respeito da vida, as relações e o tema, levantando questões, sempre num espírito motivador, de cujos encontros eu sempre saía transbordante de potência. E aos amigos de longe, igualmente queridos, Neide Maia, Lucia Magalhães, Elizabeth Pissolato e Marcelo Camurça, Rossana e Claudio Villa Verde, Cristina Moura e Gaspar Leal, Mariana Pinto, pela confiança e palavras de incentivo. À Cristina Cruz e ao Paulo Cruz pelo abrigo, pratos e carinho. À Maison du Brésil que me acolheu, onde pude contar com a alegria dos seus moradores e a disponibilidade e afeto do Fred, Jane e George. Assim como a simpatia da Inês e do Ms. Robin. Ao meu pai em memória, toujours. À minha família pelo encorajamento e torcida, à Solange Valença que quase se afogou comigo em meio a tantos registros e fichas, e especialmente à Carla Botto, fonte de inspiração e coragem. Também agradeço o carinho da família de escolha, Bezian (no Brasil e na França). Às/aos amigas/os de perto e de longe, que fazem parte direta e indiretamente dessa caminhada. Ao Hospital Pérola Byington e seus profissionais pela disponibilidade e liberdade de trabalho. À École Normale Supérieure e ao Centre Maurice Halwachs pelo acolhimento e disponibilidade de livros e material de pesquisa recheados, sempre, de muita atenção. À Capes e ao Cnpq pelo financiamento dessa pesquisa, em Paris e no Brasil. RESUMO Nesta tese analiso os percursos de mulheres laqueadas que desejam revisitar a maternidade com o suporte da reprodução humana assistida, identificando os agentes e as instituições de socialização que foram coadjuvantes em seu processo de decisão. A análise está centrada na compreensão de como é construído o percurso, desde o arrependimento da laqueadura, até a renovação do desejo de maternidade. Partindo da hipótese de que a maternidade e a criança consaguínea ainda são preponderantes na constituição da família, descrevi e analisei esses percursos e suas implicações no jogo da recomposição familiar, uma vez que a revisita à maternidade aparece como desejo seguido de ação, alguns anos após o estabelecimento do segundo leito conjugal. Durante a discussão, surgiram outras questões pertinentes, como a valorização do discurso acerca da origem dos indivíduos e, por consequência, da biologização do social e da "naturalização" dos papéis. O campo de estudo foi composto por mulheres que estão a espera do tratamento de reprodução humana assistida num hospital da rede pública de saúde do Estado de São Paulo. Encontramo-nos, as mulheres e eu, algumas vezes, ora todas juntas, ora individualmente, construindo nesses encontros um tanto de afetividade. Assim, o material foi composto por transcrições do grupo de discussão, das entrevistas e das anotações do diário de campo. A reprodução humana assistida se espraia, nos dias atuais, determinando o primado da biologia, da ciência que pode proporcionar a quem busca, a possibilidade de um bebê cuja fonte de material genético é segura, certa, gene do seu gene. E essa biologização do social traz, em seu bojo, outra questão subliminar, pois ao se submeter ao tratamento de reprodução humana assistida, a mulher perpetua e garante o ideal familiar, fundo de tela de sua própria educação: uma só mãe, um só pai, em resumo, uma única e indubitável origem. Há um discurso de revalorização da gravidez, evento biológico e biográfico por excelência. Seria importante que as mulheres que fizeram parte desse estudo, e tantas outras espalhadas por esse país, fossem mais bem informadas (sobre procedimentos contraceptivos, laqueadura, riscos, reprodução humana assistida, efeitos colaterais e possibilidades de sucesso, entre outros) para, de posse desses conhecimentos, fazer suas escolhas. Com autonomia. Descritores: Esterilização Tubária. Mãe. Família. Casamento. Técnicas Reprodutivas Assistidas. Bourdieu. Saúde Pública. ABSTRACT In this thesis I analyze the trajectories of sterilized women who wish to have a new experience of maternity by means of assisted human reproduction, identifying the agents and socializing institutions which contributed to the decision taken. The analysis focuses on the understanding of how the trajectory is constructed, from the repentance of the original sterilization through to the renewal of the desire for maternity. On the basis of the hypothesis that maternity and the blood relationship are still preponderant in the constitution of the family, the author has described and analyzed these trajectories and their implications in the act of the reconstruction of the family, seeing that the return to the renewed experience of maternity arises as a desire followed by action, some years after the establishment of the second marital relationship. During the discussions with the women involved, other relevant questions such as the greater value attributed to the discourse on the origin of individuals and, in consequence, of the biologization of the social dimension and of the "naturalization" of the roles involved, arose. The field of study consisted of women who were awaiting assisted human reproduction treatment at a hospital of the public health network of the State of São Paulo. We, the women concerned and the author, met on several occasions: sometimes all together, at others, individually, by means of these contacts building up a certain affection. Thus the material was composed of the transcriptions of the discussion group, of the interviews and of the notes made in the field diary. Assisted human reproduction is, nowadays, becoming widespread, determining the primacy of biology, of the science which can provide whoever seeks it with the possibility of having a baby the source of whose genetic material is safe, certain, genes of one's genes. And this biologization of the social dimension brings with it another subliminal question, because in undergoing assisted human reproduction treatment, the woman concerned perpetuates and guarantees the family ideal, the background of her own upbringing: only one mother, only one father, in brief: one only and undoubted origin. There is a discourse of the renewed value of pregnancy, a biological and biographical event par excellence. It is important that the women who participated in this study, and as many others scattered throughout this country, should be better informed (about contraceptive procedures, sterilization, risks, assisted human reproduction, its collateral effects and the possibilities of success, among other things) so that, once in possession of this knowledge, they might make their choices -unconstrained.
doi:10.11606/t.6.2010.tde-11022011-092408
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