TC e RM cardíaca: uma revolução não-invasiva em radiologia cardiovascular

Ricardo Loureiro, Arthur Soares Souza Jr.
2003 Radiologia Brasileira  
Nos últimos 25 anos, técnicas não-invasivas modificaram a abordagem diagnóstica das doenças cardiovasculares. Em 1975, a imagem cardíaca era baseada na radiologia convencional e angiografia por cateter, no entanto, nas últimas duas décadas, o cateterismo e a angiografia têm sido significativamente substituídas (1) . Desde então, a ecocardiografia se impôs como o pilar da propedêutica complementar na avaliação de muitas doenças cardíacas, e isto restringiu profundamente o papel do radiologista
more » ... imagem cardíaca, considerando-se que a ecocardiografia é uma prática restrita a cardiologistas. Porém, na última década, as técnicas de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) têm assumido importância gradual no diagnóstico cardiovascular, resultando em reativação do papel do radiologista, bem como da subespecialidade nos departamentos de radiologia (1, 2) . Assim como a moderna neurorradiologia requereu treinamento específico dos radiologistas para a sua efetiva implementação nos departamentos da especialidade nas décadas de 80 e 90, atualmente se observa o mesmo fenômeno na radiologia cardiovascular e, em especial, na imagem cardíaca. Diante da restrição de mercado de trabalho para o radiologista, e em especial para o recémegresso da residência médica em radiologia, a imagem cardíaca e vascular constitui, de fato, uma janela de oportunidade e posicionamento no mercado. No entanto, o caminho é laborioso e demanda uma dedicação intensiva e exclusiva do radiologista, pois nossos colegas clínicos e cirurgiões exigem conhecimentos específicos relativos às doenças cardiovasculares com os quais o radiologista não está familiarizado, em função de sua presença apenas marginal na assistência a estes pacientes. Isto poderá desanimar alguns, mas certamente outros colegas sentir-se-ão desafiados a implementar a imagem cardíaca em seus departamentos, o que tem ocorrido em instituiçõesmodelo em cardiologia, como a Cleveland Clinic e a Mayo Clinic, nos EUA. Como estímulo, a RM cardíaca é modalidade tecnicamente complexa, para a qual o treinamento e a experiência dos radiologistas são fundamentais (1) . O radiologista desempenha papel central no desenvolvimento e difusão de conhecimentos na imagem cardiovascular desde a sua origem. A técnica padrão de cinecoronariografia invasiva aplicada universalmente na avaliação de doença arterial coronariana foi desenvolvida por Mel Judkins (3) , um radiologista cardíaco na Universidade do Oregon, EUA, e publicada no Radiology, em 1967. Por sua simplicidade e precisão, seu método tornou-se padrão para radiologistas e cardiologistas nos anos 80 (1, 2) . Nos últimos anos, as técnicas de TC e RM atingiram impressionante avanço em cardiologia (4) . A RM cardíaca sobrepôs definitivamente os movimentos cardíaco e respiratório que comprometiam a qualidade das imagens, de forma que seu potencial de diferenciação e caracterização tecidual fosse desenvolvido em cardiologia, tornando-a um método extremamente acurado na detecção de lesões milimétricas do miocárdio; neste aspecto, os radiologistas contribuíram com conceitos centrais como o da segmentação do espaço K e o emprego de pulsos de inversão para saturação de sinais teciduais. Estes princípios, associados ao uso de meios de contraste e ao estudo da perfusão miocárdica, têm introduzido a RM como meio diagnóstico na doença arterial coronariana em vários centros, com significativo impacto clínico. A RM é considerada padrão-ouro na avaliação da anatomia e função ventriculares (4) .
doi:10.1590/s0100-39842003000500001 fatcat:7emmtjymrjbzhhxfooz724cpam