O fantástico, uma vez mais
Marcelo Pacheco Soares
2019
Études romanes de Brno
Entre os temas que figuram com assiduidade nas diversas propostas de revistas acadêmicas de estudos literários, não resta dúvida de que a literatura fantástica, seja em abordagens mais amplas, seja sob uma ótica mais específica, comparece com relativa frequência. Não se trata, todavia, de, por assim dizer, um modismo acadêmico; o largo tempo de permanência nos palcos das discussões demonstra o contrário. Justifica a reiterada escolha e essa inabalável presença não apenas o fantástico, cuja
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... ção do século XIX foi consolidada como gênero (ainda que tenha essa sua pretensa condição contestada por considerável parte da crítica), manter vitalidade até os dias atuais, embora algumas vezes tenhamos visto seu fim ser apregoado. Também as pesquisas sobre o assunto evoluem com tal celeridade e ramificam-se em tantas vertentes teóricas que tais espaços, como o que aqui disponibilizamos agora, mostram-se pertinentes e, com certeza, ainda insuficientes. O dossiê deste volume 40.2 de Études Romanes de Brno, "Novos Olhares sobre o Fantástico em Português", organizado pela sua co-editora Professora Doutora Silvie Špánková e, a seu gentil convite, por mim, instala mais um desses fóruns. Abraçamos, desde a sua idealização, o intuito de trazer, acerca das manifestações da literatura fantástica em língua portuguesa, abordagens ensaísticas variadas. O tema é propício a esse exercício. Como dizíamos, as pesquisas que o tornam objeto de investigação, produzidas em larga escala especialmente desde meados do último século, nem sempre alcançam consensos, de modo que o fantástico parece legar à sua teoria (ou suas teorias) incertezas semelhantes aos próprios enredos de suas narrativas. Nos artigos reunidos nessas páginas, refletindo nosso desígnio inicial, verificamos uma relativa diversidade espácio-temporal das obras estudadas -figuraram no corpus de análise autores do século XIX à contemporaneidade de Brasil, Portugal e Moçambique, ainda que com a prevalência do primeiro. Ademais, observamos uma variada origem dos pesquisadores autores dos artigos, com vínculos a universidades diversas e igualmente múltipla bibliografia teórica, o que reflete um fértil diálogo entre distintas escolas de pesquisa, objetivo afinal que todo dossiê acadêmico deve manter em seu horizonte.
doi:10.5817/erb2019-2-1
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