O CARÁTER IRRESTRITO DO PRINCÍPIO KANTIANO DE CAUSALIDADE The unrestricted universality of Kant's principle of causality
Tiago Falkenbach
unpublished
Resumo: No presente artigo, defenderei uma interpretação ontológica do argumento kantiano em favor do princípio de causalidade, exposto na "Segunda Analogia" da Experiência (Crítica da Razão Pura, A199-201/B244-6). Por interpretação ontológica, entendo uma reconstrução do argumento que procura justificar o princípio a partir de considerações sobre a realidade ou natureza do tempo, em vez de considerações sobre as relações semânticas ou epistêmicas com essa realidade. A ênfase sobre o tempo é
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... orrente da tese kantiana segundo a qual as analogias da experiência são regras da determinação universal do tempo. Argumentarei que a interpretação ontológica deve ser preferida às variantes semânticas ou epistemológicas, mais frequentes na literatura secundária, pois ela fornece a melhor explicação para o caráter irrestrito do princípio de causalidade. Palavras-chave: Princípio de causalidade; Kant; interpretação ontológica; universalidade irrestrita. Abstract: In this paper, I offer an ontological interpretation of Kant"s argument for the principle of causality, as presented in his "Second Analogy" of Experience (Critique of Pure Reason, A199-201/B244-6). By an ontological interpretation I understand a reconstruction of the argument which tries to justify the principle by means of considerations about the reality or nature of time, rather than through considerations about the semantic or epistemic relations to this reality. The emphasis on time is given to Kant"s thesis that the analogies of experience are rules of general time-determination. I shall argue that the ontological interpretation is preferable to the more usual, semantical and epistemological varieties, because it offers the best explanation for the unrestricted universality of the principle of causality. Introdução Matéria de prova da "Segunda Analogia da Experiência" (Crítica da Razão Pura, A189-211/B232-256) 1 , o princípio de causalidade reza que toda alteração tem uma causa. 2 Trata-se, segundo Kant, de um conhecimento a priori, o qual, como todo conhecimento dessa espécie, carrega a marca da necessidade ou universalidade 1 A abreviação usual "KrV." será doravante adotada para as referências à Crítica da Razão Pura. 2 Na primeira edição da Crítica, a proposição a ser provada leva o nome de "princípio da produção", o qual reza que "[t]udo o que acontece (começa a ser) supõe alguma coisa a que ele sucede segundo uma regra" (KrV. A189). Na segunda edição, é chamado de "princípio da sucessão temporal segundo a lei da causalidade" e afirma que "[t]odas alterações acontecem segundo a lei da conexão entre causa e efeito" (KrV. B232). Apesar das diferenças de denominação e formulação, assim como diferenças no corpo da prova (já que Kant acrescenta, na segunda edição, dois novos parágrafos ao texto), as semelhanças são suficientes para garantir que se trata, nas duas edições, de um e mesmo princípio, o qual declara que todo evento é decorrente de uma causa.
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