Três filmes e um papelão (o ponto final)

Airton Paschoa
2016 Rebeca: Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual  
Quem fez a fineza de chegar até o fim do meu artiguinho sobre o Match Point, 2 percebeu decerto que tem ele um narrador, e esse narrador é um bufão de esquerda... à maneira quase do bufão-de-esquerda-morifuribundo das Invasões Bárbaras (só que miseravelmente sem a mesma sorte, ai de mim! com as heroínas da vida). Passados os anos, e morigeradamente sóbrio graças ao latejar das cãs, senão da vida de cão que vamos aturando, podemos retomar as duas interpretações, ora mais, ora menos desenvolvidas
more » ... no set anterior. A primeira se desenrola naturalmente da análise: visto que, no coração da city londrina, está cravada uma ogiva, o espetacular Gherkin, 3 e como toda ogiva -explosiva, o filme afirma, alto e bom de escopeta, que esse mundo maravilhoso, investido e revestido de arte e cultura, repousa sobre crimes brutais. Isso por si só justifica a virulência tão despropositada (em mundo tão requintado) com que explodiu nossa ogiva executiva, abatendo -com espingarda de caça, a amante, dele grávida, e a velhinha, dela vizinha. E não foi por outra razão, senão pra explicá-la esteticamente, tão revoltado ficamos ao vêlo pela primeira vez, que iniciamos nossa perseguição ao crime hediondo. Como entender tamanha ferocidade? A segunda interpretação é arriscada, de sustentação meio pantanosa, mas como não me larga esse gosto de afundar afundemos. A estratégia de jogar com os gêneros, já se sabe, é formalmente pertinente ao universo de que trata, saturado que está ele de cultura. Muito que bem, como dizia meu orientador do finado doutorado (oh, dor!), por pouco não esfregando as mãos de contentamento: a suspeição sobre eles, porém, despertada quando deparamos,
doi:10.22475/rebeca.v3n2.336 fatcat:mmp352xpgjgybh2t2swf6ezhau