Mortalidade segundo causas: considerações sobre a fidedignidade dos dados

Ruy Laurenti, M. Helena P. de Mello Jorge, Sabina L. D. Gotlieb
2008 Revista Panamericana de Salud Pública  
As estatísticas de mortalidade são usadas em epidemiologia e saúde pública como indicador de nível de saúde, em avaliações de programas de saúde e em estudos populacionais visando a comparar tendências temporais e diferenças geográficas. Uma das variáveis utilizadas nesse tipo de análise é a causa básica da morte. Entretanto, existem críticas quanto à qualidade das estatísticas baseadas nas causas de morte declaradas pelos médicos nos atestados de óbito. O objetivo deste artigo é refletir sobre
more » ... a fidedignidade das causas de morte declaradas pelos médicos nos atestados de óbito, com base em estudos realizados segundo diferentes metodologias, e comentar a validade das estatísticas de mortalidade segundo causas. Coeficiente de mortalidade, análise estatística, atestado de óbito. RESUMO Há quase uma década, Cook (1) comentou que desde 1837 os atestados de óbito vêm sendo utilizados para produzir estatísticas de mortalidade na Inglaterra. Atualmente, mais de 160 anos depois, as estatísticas de mortalidade continuam sendo a mais importante fonte de informação disponível sobre a saúde da população. Elas têm sido usadas para avaliar desigualdades sociais, tendências temporais e diferenças regionais e ocupacionais. Têm também sido utilizadas no planejamento de serviços de saúde e na pesquisa. A Inglaterra também é considerada o berço das estatísticas de mortalidade segundo causas, pois é daquele país a primeira publicação sobre essas estatísticas, que incluía, entre outras variáveis, a causa da morte (2). O modo tradicional de elaborar as estatísticas de mortalidade por causas envolve um sistema no qual as informações relativas a cada uma das mortes ocorridas são coletadas sempre com base no atestado de óbito, que contém, entre outras variáveis, a causa de morte preenchida pelo médico. Nesse sistema, adota-se uma definição internacional clara e bastante precisa sobre a causa a ser escolhida como a causa da morte, dentre as várias declaradas pelo médico. É a chamada causa básica da morte, definida na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) como "(a) a doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte ou (b) as circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal". John Graunt, sempre citado em livros de epidemiologia e de estatísticas de saúde e considerado o "pai" da epidemiologia quantitativa, das estatísticas de mortalidade e da classificação de doenças, já manifestava preocupação quanto à exatidão dos dados de mortalidade. Apresentou, entre outras, uma descrição pormenorizada das listas de mortalidade (bills of mortality), incluindo aspectos relativos à qualidade dos dados. Nordenfelt (3), comentando as causas de morte pela lista criada por Graunt, citou que este estava consciente da existência de possíveis erros; porém, seu trabalho reve- Palavras -chave Revisión bibliográfica / Literature review Laurenti R, Mello Jorge MHP, Gotlieb SLD. Mortalidade segundo causas: considerações sobre a fidedignidade dos dados. Rev Panam Salud Publica. 2008;23(5):349-56.
doi:10.1590/s1020-49892008000500007 pmid:18510795 fatcat:qoq254iyxvfehcrn662vhsajfm