VAMPIROS: O MITO É O NADA QUE É TUDO E DE TODOS VAMPIRES: THE MYTH IS NOTHING THAT IS ALL AND FOR ALL

Salma Ferraz
unpublished
RESUMO O presente artigo pretende analisar a evolução da literatura vampiresca, começando pelo que chamamos de Vampiros Pré-Drácula, por Drácula de Bram Stocker, Entrevista com o Vampiro e Vittório, O Vampiro de Anne Rice, Crepúsculo de Stephenie Meyer e terminando com alguns textos escritos para o público infantil. Palavras-chave: Literatura de terror. Vampiros, tradição e ruptura. Drácula a Crepúsculo. ABSTRACT This article aims to analyze the evolution of vampire literature, beginning with
more » ... at we call Pre-Dracula Vampires, by Bram Stocker's Dracula, Interview with the Vampire and Vittorio, The Vampire by Anne Rice, Twilight by Stephenie Meyer and ending with some texts written for children. Key-words: Literature of terror. Vampires. Tradition and rupture. From Dracula to Twilight. Linguagens -Revista de Letras, Artes e Comunicação ISSN 1981-9943 Blumenau, v. 6, n. 2, p. 234-258, mai./ago. 2012 236 católico, Dom Augustin Calmet, intitulado Dissertation sur les apparition des anges, des demons et des esprit, et sur les revenants et vampires de Hongrie, de Bohême, de Maravie et de Silésie em 1751. Com um pé na ciência e outro no imaginário popular, Calmet foi criticado por seus pares, mas seu livro se tornou um best-seller utilizado pela futura geração de escritores desta temática. Acrescentem-se também as lendas surgidas em torno da existência real Vlad III, nascido na Transilvânia, o príncipe da Valáquia (1431-1476), conhecido como Vlad, o empalador, em romeno Vlad Tepes, ou Drácula que foi príncipe da Valáquia por três vezes. Era um Cavaleiro Cristão que combateu a invasão islâmica na Europa. Sádico, ele empalava os seus inimigos, mas ao mesmo tempo erguia conventos. Morreu lutando contra os turcos, foi decapitado e sua cabeça enviada a Constantinopla. Foi enterrado em Bucareste. Mais tarde, em 1931, arqueólogos encontraram o túmulo, mas o corpo de Drácula havia desaparecido. Cabe esclarecer que o vampiro, tal como o conhecemos na ficção, nasceu num lugar específico: a Europa Centro Oriental, nos países eslavos, sua imagem cristalizou-se entre final do século XVII e início século XVIII. A própria palavra vampir procede do idioma sérvio. Em países como Romênia, aconteceram verdadeiros surtos de vampirismo, tendo o governo austríaco interferido com uma comissão de especialistas para investigar os casos de vampirismo e exumação de cadáveres. Cadáveres eram exumados, decapitados e estaqueados. Em 1755, a Imperatriz Maria Teresa, da Áustria, encarregou seu médico pessoal de investigar este surto. Swieten, concluiu que tudo não passava de histeria e a partir de então foi proibida a exumação de cadáveres. No entanto, a Europa das Luzes não conseguiu vencer o mito das trevas, fortemente, enraizado nas crenças e tradições populares. Os caninos temáticos que sustentam a ficção vampírica são: vida, morte, imortalidade, sedução, sexo, salvação e perdição, violência, terror e prazer, temas estes caros aos seres humanos. Em geral, são todos ricos, aristocratas, belos e magros. Não existe vampiro pobre, gordo e feio! As tramas se apresentam como narrativas em moldura: aparece um quadro quase teatral, uma cena, alguém se lembra de algo do passado e uma nova estória começa. Na Bíblia, explicitamente em Levíticos 7:27, o ato de beber sangue é duramente condenado: Toda pessoa que comer algum sangue será eliminada do seu povo. Este texto de Levíticos remete ao livro de Gênesis 9:4: Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis. Portanto, no sangue está a vida. E a ficção vampira é vermelha, há muito sangue em cada conto, uma gota de sangue em cada página, um pescoço a cada esquina, um olho vermelho sempre à espreita! Linguagens -Revista de Letras, Artes e Comunicação ISSN 1981-9943 Blumenau, v. 6, n. 2, p. 234-258, mai./ago. 2012 237 2 O VAMPIRO PRÉ-DRÁCULA Mas, já havia vampiro na literatura antes de Drácula, já havia vida, ou melhor, já havia não-vida, antes de Drácula de Stoker, romance publicado em 1897. Ao denominar a produção existente antes de Drácula, Martha Argel e Humberto Moura Neto em seu livro O Vampiro Antes de Drácula, usam o termo pré-literário. Creio que o termo mais exato seria o vampiro Pré-Drácula. Entre dezenas de textos ficcionais Pré-Drácula, citamos apenas três textos de nossa preferência 1) The Vampyre do médico e escritor inglês John Polidory (1819), A Família Vordoulak (1839) do dramaturgo russo Alexei Tostói, e Carmilla (1872) do escritor irlandês Sheridan Le Fanu. Ilustração atual de Carmilla. Carmilla sempre foi um texto muito a frente de seu tempo, por retratar de uma maneira natural e nada discreta, sem nenhum questionamento moral que era próprio da época, uma vampira homossexual e pedófila já que ataca Laura quando esta tinha apenas 6 anos. Carmilla (não existe amor que não seja cruel e egoísta (...) vivo em você, e você morrerá por mim. Eu a amo tanto) é um Don Juan de saias e Laura, a falsa pura, que a princípio nos parece uma donzela ludibriada por Carmilla, aceita a corte e finge não ver todos os indícios de que algo está errado, como, por exemplo, a semelhança do retrato da Condessa Millarca com Carmilla. Aqui a mordida da Vampira é no seio da amada o que conota maior sensualidade ainda. O conto foi escrito com cenas arrepiantes, carruagens suspeitas, castelos mal
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