CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA PÓS-EMPIRISTA AO DEBATE TEÓRICO NA GEOGRAFIA

Djalma Ferreira Pelegrini, Vânia Rúbia Farias Vlach
2011 Revista da ANPEGE  
Resumo Uma revisão a respeito do tratamento dado à noção de método científi co pelos fi lósofos pós-empiristas do século XX, como também sobre os fundamentos das ciências humanas, segundo Michel Foucault, introduziu-nos no estudo dos princípios teóricos da Geografi a. A partir da análise de textos de alguns dos principais teóricos, argumenta-se que os discursos geográfi cos modernos colocam-se, em geral, à margem dos debates promovidos no âmbito da história e da fi losofi a da ciência, durante
more » ... século XX. A preocupação com a defi nição de método e objetos de estudos específi cos para esta disciplina presta-se como evidência de que a concepção tradicional de metodologia serve ainda como fundamento para a Geografi a Moderna. Palavras-chave: Teoria da Geografi a; Método Científi co; Pensamento Geográfi co. Abstract A review of the treatment given to the notion of scientifi c method by the post-empiricist philosophers of the twentieth century, as also of the foundations of human sciences, according to Michel Foucault, led us to the study of theoretical foundations of Geography. From the analysis of the texts of the main theorists of geography, it is argued that the modern geographical discourses are in general on the fringes of the debates held in the scope of the history and the philosophy of science during the twentieth century. The concern about the defi nition of method and objects of study specifi c to this discipline lends it self as evidence that the traditional methodology also serves as the foundation of modern geography. Resumen Una revisión respecto el tratamiento dado a la noción de método científi co por los fi lósofos posempiricistas del siglo XX, sino también sobre los fundamentos de las humanidades, de acuerdo com Michel Foucault, nos introdujo en el estudio de los princípios teóricos de la Geografi a. A partir del análisis de textos de algunos de los principales teóricos, sostiene que el discurso geográfi co moderno ponerse em general, aparte de los debates que tienen lugar dentro de la historia y la fi losofía de la ciencia durante el siglo XX. La preocupación por la defi nición del método y los objetos de estudio específi cos de esta disciplina se presta como evidencia de que la metodologia tradicional también sirve como la base de la Geografi a moderna Palabras Clave:Teoría de la Geografi a, Método Científi co, Pensamiento Geográfi co aaaaa aaaaa INTRODUÇÃO A publicação da Anthropogéographie, em 1882, por Friedrich Ratzel, marcou o início do processo de refl exão acerca de uma nova temática, emergente de entre os campos do conhecimento até então constituídos. A defi nição de Geografi a dada pelos geógrafos no fi nal do século XIX, correspondente à integração de fenômenos físicos e humanos sobre a superfície terrestre, signifi cava, até então, uma autêntica novidade (CAPEL, 1983) . Inicialmente, a temática das relações homem / meio, e da interface sociedade / natureza, chamou a atenção de muitos estudiosos, a exemplo de Friedrich Ratzel e Paul Vidal de La Blache, dentre outros da mesma vertente. Apesar de a constituição de algumas sociedades geográfi cas ter ocorrido nas primeiras décadas do século XIX, os geógrafos, desde o início, encontraram difi culdades na explicitação dos métodos, na identifi cação do objeto de estudo, e na conceituação das categorias e noções fundamentais empregadas em suas análises. A explicitação do método e a delimitação do objeto foram procedimentos exigidos de todos os saberes que se pretenderam científi cos, no referido período, segundo os critérios tradicionais. Se os teóricos da Geografi a procuraram torná-la uma disciplina reconhecida nos meios acadêmicos e imprimir-lhe um caráter científi co, durante os dois últimos séculos quiseram-na como conhecimento sistematizado, buscando conformá-la aos padrões metodológicos sugeridos e elegendo-lhe objetos de estudo. Portanto, a proposição de uma Geografi a científi ca na modernidade, requereu delineamento de método e objetos compatíveis com uma suposta sistematização. É de supor que esta exigência jamais foi atendida, razão do prosseguimento desse debate nos dias de hoje. Aponta-se, frequentemente, a grande variedade de fenômenos discutidos no âmbito da Geografi a, decorrentes de processos que ocorrem na natureza e na sociedade e suas interações, como a razão da existência de grande parte das difi culdades metodológicas comumente referidas (MORAES, 1996) . Entretanto, este não é um problema enfrentado apenas pelos geógrafos. Antropólogos, economistas, agrônomos, ecólogos etc, também se defrontam com ele. Ademais, a questão do método é uma discussão conduzida em todos os domínios do saber que alimentam pretensões científi cas. Horácio Capel (1983) lançou algumas luzes sobre os procedimentos adotados pelos escritores geógrafos, durante os três primeiros quartos do século XIX, apontando que a Geografi a descritiva dos países, até então praticada na França, não se caracterizava pelo rigor de seu método, o que a fazia motivo de zombaria e menosprezo por parte de outros cientistas. Destaca ainda um aspecto fundamental sobre esta questão, quando informa que os geógrafos, nessa época, não adotavam um só método científi co, mas uma diversidade deles, de acordo com a conveniência. Quando Albert Demangeon (1982) propôs que os estudos em Geografi a Humana fossem conduzidos a partir de uma base territorial, e que, por este detalhe, se pode distingui-la da Sociologia, certamente sugeriu um procedimento de fundamental importância para a prática dos pesquisadores geógrafos, o que, contudo, não garante a ocorrência de novas descobertas, ou, sequer, o rigor à pesquisa. Diante da necessidade de elaborar os fundamentos da ciência geográfi ca, os pensadores desta disciplina percorreram diversos trajetos teóricos, durante os últimos 200 anos, em busca de terreno fi rme para nele implantar os alicerces de seu saber. Ousamos argumentar, neste artigo, que os desenvolvimentos alcançados neste sentido alinham os fundamentos da Geografi a moderna à teoria tradicional, razão pela qual essa disciplina ainda não logrou êxito em romper o casulo de positivismo de onde foi engendrada. A QUESTÃO DO MÉTODO Sobre os alicerces do racionalismo e do empirismo constituíram-se os diversos saberes, identifi cados em conjunto pelo grande título de ciência moderna, cujo desenvolvimento tornou-se marcante a partir da revolução científi ca dos séculos XVI e XVII. Dos encontros e desencontros
doi:10.5418/ra2011.0708.0002 fatcat:b5mfrpeztbb2vnt6om7i542ibu