O euro e os trabalhadores: uma visão latino-americana
Carlos Eduardo Carvalho
1999
Revista Brasileira de Política Internacional
Que efeitos o surgimento do euro poderá ter sobre os trabalhadores do Brasil e da América Latina? O que se pode esperar em termos de aumento de emprego e de melhoria das condições de trabalho e de vida? Muito pouco, infelizmente, ou quase nada, pelo menos a curto e médio prazos. Esta resposta negativa talvez pareça algo desconcertante. Afinal, a criação da moeda européia reveste-se de grande significado histórico, e não apenas pelos seus prováveis impactos econômicos em todo o mundo. Como
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... ramento de um longo processo de aproximação e convergência de interesses entre nações que escolheram a via da negociação e dos acordos, capaz de sobrepor-se a um passado de desconfianças mútuas e de guerras devastadoras, o euro tem estimulado as esperanças de aproximação entre os povos e de um futuro de paz para a humanidade. Ainda assim, e como seria de se esperar, permanece em aberto um amplo leque de questões de grande relevância, inclusive no terreno monetário e cambial, foco das atenções nos primeiros meses da nova moeda. Não está claro, por exemplo, quais são as possibilidades de que o euro consiga rivalizar com o dólar como moeda de transação e como reserva de valor. Ainda mais controvertidas são as avaliações dos efeitos da nova ordem monetária sobre os trabalhadores da União Européia, em termos de oferta de emprego e de direitos trabalhistas e sociais. No Brasil, o debate sobre o euro concentrou-se até agora nos seus impactos sobre os mercados financeiros internacionais, dedicando-se menor atenção aos efeitos sobre o nosso país e sobre a América Latina, mesmo em relação ao comércio externo e aos fluxos financeiros para a região. Esforço ainda menor têm merecido questões mais delimitadas, como os impactos do euro sobre os trabalhadores em nossos países. Análises deste tipo encontram dificuldades importantes. Talvez por se tratar de indagações muito originais, formuladas em meio a um quadro internacional complexo e marcado por sucessivas ondas de instabilidade, não estão suficientemente delineados os parâmetros para a discussão. Ainda não se sabe, por exemplo, em que medida a unificação monetária marcará de fato uma mudança substancial no relacionamento entre a Europa e a América Latina, ou se irá se revestir muito mais de elementos de continuidade em um processo já bastante antigo e complexo. Há, ainda, as consideráveis diferenças que os países latinoamericanos apresentam entre si e dentro de cada um deles, inclusive quanto à
doi:10.1590/s0034-73291999000200010
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