IGUALDADE E DIFERENÇA - AS DIVERSAS CULTURAS E A CULTURA POPULAR
Maristela Corrêa Borges, Carlos Rodrigues Brandão
2020
Revista desenvolvimento social
Somos hoje uma única espécie de seres que a si mesmos deram o nome de "humanos". Diversos entre raças e etnias, somos uma espécie só. Ao contrário das outras espécies de primatas, viemos ao mundo com o aparato biológico tão uniforme que poderíamos falar (como se supõe que aconteceu de fato antes da Torre de Babel) uma única língua. No entanto, somos seres que se alçaram do sinal ao signo e do signo ao símbolo. Assim, se biologicamente deveríamos falar uma única "língua", como os orangotangos ou
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... os gorilas, falamos, somente hoje em dia, cerca de seis mil línguas e dialetos deferentes. Apenas aqui no Brasil existem mais de cento e setenta línguas de povos indígenas. Um dos acontecimentos mais intrigantes e mais originais a respeito de nós mesmos é a constatação de que nascemos com um equipamento para viver mil vidas, mas terminamos no fim das contas tendo vivido uma só. De maneira bastante diversa do que aconteceu, por exemplo, com os primatas (como nós) denominados por nós de macacos, ao invés de mantermos uma pluralidade de espécimes diferentes, acabamos reduzidos a uma só. Somos uma única espécie. Os seres humanos são um só. As diferenças reais entre pessoas e grupos humanos de todos os povos espalhados por toda a Terra, são essencialmente inexistentes. No entanto, um menino esquimó criado em uma cidade do Brasil, sem nunca haver vivido nada de seu "mundo inuit" (que é como os esquimós se chamam a si mesmos) será, aos 12 ou aos 18 anos, um brasileiro-paulista sorocabano típico, no corpo de um esquimó, ou de um inuit. Pois a cultura humana é uma, mas as culturas dos grupos e povos humanos são múltiplas. Foram e são inúmeras nos tempos da história e nos espaços da geografia humana. Somos a única espécie que, munida de um mesmo aparato biopsicológico, ao invés de produzir um único modo de vida, ou modos de ser muito semelhantes, geramos quase incontáveis formas de ser e de viver, como tipos de sociedades e de culturas. Durante muito tempo estas diferenças culturais foram pensadas como desigualdades entre culturas. De que maneira? Seguindo tradições da Grécia antiga, os modos de ser "do outro" costumavam ser classificados como: "primitivos", "selvagens", "bárbaros". Ainda hoje muitas vezes se pensam e se classificam povos e suas culturas desta maneira. Tomando o modo de ser ocidental, branco e europeu de ser como um padrão de civilidade e de desenvolvimento cultural, todos os outros eram avaliados como situados em algum ponto anterior de uma espécie de "evolução" inevitável
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