Por que o hedging parcial é ótimo?
Richard Saito, Rafael F. Schiozer
2008
RAE: Revista de Administração de Empresas
INTRODUÇÃO A estratégia fi nanceira de uma empresa envolve decisões acerca de três questões fundamentais: investimento, fi nanciamento e gestão de riscos. Num mercado sem imperfeições (i.e., assimetria informacional, impostos, custos de falência, transação e agência), as decisões de fi nanciamento e investimento são independentes entre si, e a gestão de riscos é incapaz de gerar valor para um acionista diversifi cado. Jensen e Meckling (1976 ), Myers (1977 , e Myers e Majluf (1984), entre
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... , tratam da interdependência entre as decisões de fi nanciamento e investimento, a partir de imperfeições de mercado, como os custos de agência, custos de falência e assimetria informacional, respectivamente. A literatura sobre a gestão de riscos corporativos ganhou espaço nos principais periódicos de Finanças a partir dos trabalhos clássicos de Stulz (1984) e Smith e Stulz (1985) , que traziam as razões teóricas para que a gestão de risco pudesse gerar valor na presença de imperfeições de mercado, como função tributária convexa, custos de falência e difi culdades fi nanceiras. O artigo de Froot, Scharfstein e Stein (1993), doravante Froot et al., no entanto, é o primeiro a inter-relacionar as decisões de investimento, fi nanciamento e gestão de risco de maneira simultânea. Enquanto quase toda a literatura até então focava as práticas de hedge e precifi cação dos instrumentos de proteção contra riscos [o que Froot et al. (1993) chamam de "mecânica de hedge"], Froot et al. (1993) abordam os tipos de risco que a fi rma deve mitigar e a proporção da exposição a ser protegida. Assim, é o primeiro trabalho teórico a explicar por que o hedge parcial pode ser ótimo. O artigo empírico de Tufano (1996) , usando uma amostra de empresas do setor de mineração de ouro, mostra que as práticas de gestão de risco nas empresas estão mais ligadas à aversão ao risco de seus gestores do que a princípios de maximização do valor da empresa. Dessa forma, os confl itos de agência são apresentados como explicação complementar à teoria de Froot et al. (1993) para a existência de hedge parcial das exposições. A maior contribuição do trabalho de Tufano, no entanto, está provavelmente na metodologia desenvolvida para medir a magnitude da gestão de riscos, como será visto adiante. Sua maneira de estimar a magnitude da gestão de risco permitiu que os trabalhos empíricos futuros pudessem trabalhar não apenas com uma variável binária, que indicava a existência ou inexistência de uso de derivativos ou práticas de hedge (que era o caso da quase totalidade dos trabalhos empíricos sobre o assunto, e.g., Nance et al., 1993 e Gèczy et al., 1997, mas também com uma variável que pudesse medir consistentemente a intensidade da gestão de risco, proporcionando a possibilidade de investigações acerca da magnitude da gestão, com destaque para Graham
doi:10.1590/s0034-75902008000100006
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