Corpo e dor nas condutas escarificatórias na adolescência Body and pain in scarifying behaviors in adolescence
Marta Cardoso, Aline Gonçalves Demantova, Gabriela Domingues, Caetano Soares, Maia
unpublished
Estudos de Psicanálise | Belo Horizonte-MG | n. 46 | p. 115-124 | dezembro/2016 115 Corpo e dor nas condutas escarificatórias na adolescência Resumo Neste artigo investigamos o papel do corpo e da dor nas práticas de escarificação tendo em vista sua significativa incidência na adolescência. A passagem da infância à vida adulta pressu-põe a presença de uma violência psíquica interna. As transformações pubertárias colocam em risco os limites do corpo, podendo fazer com que o sujeito perca o
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... ento de continuida-de de si, resultante de um desequilíbrio no plano do conflito psíquico. Os atos de escarificação na adolescência nos interrogam sobre as repercussões internas de um corpo radicalmente transformado, incidindo fortemente na relação entre corpo e psiquismo e naquela existente entre o eu e o outro. A dor perpetrada no próprio corpo constitui recurso defensivo arcaico, mas paradoxalmente funciona como tentativa do ego de dele se apropriar. Essa modalidade de ato, de caráter autodestrutivo, implica a projeção ao espaço corporal de uma luta travada no mundo interno onde o eu se encontra transbordado pela força pulsional. Palavras-chave: Escarificação, Corpo, Dor, Adolescência. situações clínicas que aqui nos ocupam é o apelo ao corpo e ao ato por parte do eu. A prática da escarificação é um ato auto-mutilatório em que o sujeito corta partes de seu corpo sem intenção suicida consciente, infligindo uma dor corporal em si mesmo. De que maneira essa prática se articula com a dimensão de trauma? As marcas corporais, produzidas de modo violento contra si indicariam uma tentativa de inscrição no corpo de elementos que não conseguiram se inscrever no psiquismo, per-manecendo fora do universo representacio-nal? As pesquisas dedicadas às questões da clínica psicanalítica atual apontam para uma alta inci-dência de quadros cuja principal via de expressão é o corpo. Estamos diante de casos de adicção, de anorexia, de dor física crônica, de automuti-lação, modalidades diversas de passagem ao ato. Um denominador comum entre esses quadros, além da sua evidente implicação corporal, é a precariedade da elaboração psíquica que lhes é característica no que tange à singularidade de seu modo de funcionamento psíquico. De acordo com Birman (2013), se a clíni-ca da neurose é centrada no conflito psíqui-co entre desejo e interdição, uma marca das
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