Virtue epistemology - Epistemologia da virtude
Breno Ricardo Guimarães Santos, Pedro Merlussi
2015
Intuitio
A epistemologia da virtude contemporânea (de agora em diante 'EV') é uma coleção diversificada de abordagens em epistemologia. Dois compromissos a unificam. Em primeiro lugar, o de que a epistemologia é uma disciplina normativa. Em segundo lugar, o de que agentes e comunidades intelectuais são a fonte primária de valor epistêmico e o foco primário de avaliação epistêmica. Este verbete introduz o leitor a muitos dos mais importantes resultados do programa de pesquisa da EV contemporânea. Estes
more »
... sultados incluem tentativas inovadoras de resolver disputas duradouras, solucionar problemas perenes, e expandir os horizontes da epistemologia. No processo, este verbete revela a diversidade dentro da EV. Além de compartilhar os dois compromissos de unificação mencionados acima, seus praticantes divergem acerca da natureza das virtudes intelectuais, de quais perguntas fazer e quais métodos usar. Será útil notar alguma terminologia antes de prosseguirmos; Em primeiro lugar, nós usamos 'cognitivo', 'epistêmico' e 'intelectual' como sinônimos. Em segundo lugar, frequentemente usamos 'normativo' de forma ampla para incluir não apenas normas e regras, mas também deveres e valores. Por fim, 'praticantes' nomeia os epistemólogos da virtude contemporâneos. * Tradução de verbete autorizada pela Stanford Encyclopedia of Philosophy, sob assessoria de Valter Alnis Bezerra. A referida autorização encontra-se em poder da revista. Texto original disponível em Introdução Nós começaremos por explicar dois compromissos básicos da EV contemporânea. Um dos compromissos da EV é o de que epistemologia é uma disciplina normativa. Isto acarreta pelo menos duas coisas. Em primeiro lugar, assinala uma oposição à sugestão radical de Quine em -Epistemologia Naturalizada‖, de que os filósofos deveriam abandonar questões acerca do que é razoável crer e deveriam se restringir, em vez disso, a questões acerca da psicologia cognitiva. Epistemólogos da virtude rejeitam a proposta de Quine 1 . Apesar disso, eles são geralmente receptivos aos dados empíricos sobre a formação de crença, oriundos tanto da psicologia como da história 2 . Em segundo lugar, acarreta que epistemólogos deveriam direcionar seus esforços ao entendimento de normas, valor e avaliação epistêmica. Esta é uma característica definidora do campo. Por conseguinte, a EV apresenta-se de forma central na recente -virada do valor‖ em epistemologia 3 . Para alguns epistemólogos da virtude, no entanto, a ideia de que a epistemologia é uma disciplina normativa significa mais do que isso. Por exemplo, alguns praticantes pensam que termos (ou conceitos) epistemológicos como 'conhecimento', 'evidência', 'justificação', 'dever' e 'virtude' não podem ser definidos adequadamente ou completamente explicados em um vocabulário puramente não normativo 4 , embora outros discordem 5 . Outros pensam que a epistemologia deveria procurar promover o bem-estar intelectual. Talvez uma teoria epistemológica devesse ser -praticamente útil‖ em nos ajudar a reconhecer quando sabemos ou não sabemos algo 6 , ou nos ajudar a superar -ansiedades‖ devidas a pressuposições falhas acerca do 1 MCDOWELL, J. argumenta que as primeiras versões do confiabilismo são mais bem interpretadas como epistemologias da virtude. Quando os primeiros confiabilistas falam de confiabilidade, Kvanvig argumenta, eles são mais caridosamente entendidos como invocando o caráter cognitivo confiável. Aqui, ele tem em mente as perspectivas de David Armstrong, Robert Nozick e Alvin Goldman. Goldman 21 desde então abraçou o rótulo da EV. A Natureza das Virtudes Intelectuais Comecemos com uma caracterização incontroversa, mas ainda informativa, das virtudes intelectuais. Virtudes intelectuais são características que promovem florescimento intelectual, ou que formam um agente cognitivo excelente. A EV é, de maneira padrão, dividida entre responsabilistas da virtude e confiabilistas da virtude 22 . De acordo com esta taxonomia, os dois campos diferem sobre como caracterizar a virtude intelectual. Os confiabilistas da virtude (e.g. Goldman, Greco, Sosa) entendem que as virtudes intelectuais incluem faculdades como percepção, intuição e memória; chamemos estas de 'virtudes das faculdades'. Sua perspectiva é mais bem entendida como sendo descendente das primeiras epistemologias externalistas, como o confiabilismo processual simples. Os responsabilistas da virtude (e.g. Code, Hookway, Montmarquet, Zagzebski) entendem que as virtudes intelectuais incluem traços refinados do caráter como 11 GRECO, J. -Virtues in chama atenção para um conjunto de virtudes negligenciadas pelos epistemólogos de todos os tipos. Eticistas das virtudes têm, há muito tempo, reconhecido uma diferença entre virtudes morais com relação a si próprio, como prudência e coragem, e virtudes com relação a outros, como benevolência e compaixão. E eles têm reconhecido a importância de ambos os tipos. Mas os epistemólogos da virtude têm negligenciado uma distinção similar entre as virtudes intelectuais. Eles
doi:10.15448/1983-4012.2015.1.19738
fatcat:uh3vna4xxbchvhtd2pel6rml7i