Direcionadores do processo de inovação: o papel da estratégia, liderança e cultura

Pierry Teza, Viviane Brandão Miguez, Roberto Fabiano Fernandes, Gertrudes Aparecida Dandolini
2013 Navus: Revista de Gestão e Tecnologia  
RESUMO A velocidade de mudança do ambiente em que as organizações estão inseridas aumenta rapidamente, fazendo com que elas necessitem obter vantagens competitivas sustentáveis. Uma vez que o ambiente é competitivo e mutável, as organizações necessitam inovar rapidamente, porém de forma eficiente e eficaz. Uma das condições para que isso ocorra é a gestão efetiva de um processo de inovação que deve estar alinhado com as diretrizes organizacionais, relacionadas com três fatores relativamente bem
more » ... estudados na literatura de gestão: estratégia, liderança e cultura da organização. Apesar de diversos estudos abordarem um ou dois desses fatores e sua relação com o processo de inovação, poucos estudos têm analisado de forma conjunta. Como contribuição empírica ao tema, este trabalho apresenta um estudo de caso sobre a influência da estratégia, da liderança e da cultura sobre o processo de inovação em uma empresa desenvolvedora de produtos para o lar. Foi entrevistado um grupo de funcionários da organização, oriundos de diversos setores desta. Para as entrevistas, utilizou-se a técnica de grupo focal, realizada na organização. Complementarmente, utilizaram-se dados obtidos por meio de observação e análise de documentos. Como resultados, verificou-se que: (a) estratégia, liderança e cultura, direcionam o processo de inovação da organização; (b) os funcionários percebem a importância do alinhamento entre esses três fatores para o processo de inovação; (c) apesar de esses fatores influenciarem o processo de inovação, são também influenciados pelo desejo de inovar da organização. Apontam-se, do mesmo modo, alguns pontos para trabalhos futuros. Palavras -chave: Inovação. Front End da Inovação. Gestão da Inovação. Direcionadores da Inovação INTRODUÇÃO A velocidade de mudança do ambiente em que as organizações estão inseridas aumenta rapidamente, fazendo com que elas necessitem obter vantagens competitivas sustentáveis, renovando-se constantemente. Direcionadores do processo de inovação: o papel da estratégia, liderança e cultura Pierry Teza, Viviane Brandão Miguez, Roberto Fabiano Fernandes, Gertrudes Aparecida Dandolini Constantes demandas e mudanças do ambiente exigem uma constante adaptação das organizações por meio da inovação, que, segundo a OECD (2005) pode ser realizada em relação a produtos (bens e serviços), a processos, em marketing e em métodos organizacionais, caracterizando assim os tipos de inovação do ponto de vista de resultado. Partindo do fato de que existem variadas abordagens e, consequentemente, conceitos referentes à inovação (BAREGHEH; ROWLEY; SAMBROOK, 2009), utilizou-se no estudo aqui relatado o conceito proposto por Baregheh, Rowley e Sambrook (2009, p. 1334), que afirmam que a "inovação é o processo de várias etapas através do qual as organizações transformam ideias em produtos novos/melhorados, serviços ou processos, a fim de avançar, competir e diferenciar-se com sucesso em seu mercado". Ao longo dos anos, diversas pesquisas têm focado no processo de inovação, sobretudo em formas de melhorá-lo como um todo. Os estudos iniciaram fundamentalmente concentrados no desenvolvimento de novos produtos, com foco em bens. Posteriormente, surgiram pesquisas com um olhar mais apurado sobre os demais resultados da inovação. Haja vista que a literatura de desenvolvimento de produtos foi transposta para a área de inovação, agregando-se estudos sobre outros resultados do processo, entende-se aqui que o processo de desenvolvimento de novos produtos e o processo de inovação são sinônimos, sendo a alteração principal o fato de que, no processo de inovação, podem-se ter múltiplos tipos de resultados. Uma mudança importante na forma de visualizar o processo de inovação foi proposta por Smith e Reinertsen (1991) (ainda com foco no desenvolvimento de produtos -bens), que destacaram, no processo, o estágio inicial, ou seja, as atividades e o tempo até o desenvolvimento de um conceito de produto. A esse estágio, considerado aqui como um subprocesso, os autores chamaram de fuzzy front end (FFE). Assim, com base na proposta de Smith e Reinertsen (1991), pode-se dividir o processo de desenvolvimento de novos produtos em três subprocessos: (1) fuzzy front end; (2) desenvolvimento de novos produtos; (3) comercialização. Conforme orientação de Koen et al (2001) , será utilizado aqui o termo front end da inovação (FEI), uma vez que os autores afirmam que o uso do termo "fuzzy" pode implicar que esse subprocesso é misterioso e, portanto, impossível de gerenciá-lo. Além disso, partindo do fato de que o processo de inovação pode resultar em diferentes tipos de resultados (produtos -bens e serviços, processos, métodos de marketing e métodos organizacionais), para o subprocesso de desenvolvimento de produtos, será utilizado o termo "desenvolvimento" e, para o subprocesso de comercialização, será utilizado o termo "implementação", uma vez que uma inovação em processo, por exemplo, não precisa ser necessariamente comercializada. Nesse sentido, divide-se o processo de inovação em: front end da inovação; desenvolvimento; implementação. Dos três subprocessos identificados por Smith e Reinertsen (1991), verifica-se que muito foi avançado em relação ao desenvolvimento e a implementação; porém, os estudos relativos ao front end da inovação somente nos últimos anos têm recebido mais atenção tanto das organizações quanto da academia (AAGAARD; GERTSEN, 2011). Assim, o FEI é uma das maiores áreas de fraqueza do processo de inovação, mas, fundamentalmente, determina o posterior sucesso da inovação (KOEN et al, 2001; CRAWFORD; BROER; BASTIAANSEN, 2006; BRENTANI; REID, 2012) . Ou seja, conclusões existentes indicam que a melhoria do FEI tem o maior potencial para melhorar a inovação com o mínimo de esforço (NOBELIUS; TRYGG, ). Porém, uma vez que estudos empíricos relativos ao FEI são importantes e relativamente escassos (AAGAARD; GERTSEN, 2011), este trabalho apresenta um estudo que objetivou descrever como liderança, cultura e estratégia influenciam no processo de inovação em uma empresa desenvolvedora de produtos para o lar. Assim, partiu-se da seguinte questão de pesquisa: como a liderança, a cultura e a estratégia influenciam no processo de inovação da organização. O trabalho continua na seção 2 explicitando a base teórica relativa a front end da inovação e aos direcionadores da inovação. Na seção 3, é apresentado o método utilizado para o estudo. Na seção 4, são apresentados e discutidos os resultados do estudo. Finalmente, na seção 5, são expostas as considerações finais do trabalho. FRONT END DA INOVAÇÃO De acordo com Koen et al (2001, p. 3), o front end da inovação "envolve as atividades que ocorrem antes do formal e bem estruturado subprocesso de desenvolvimento de novos produtos". Segundo Khurana e Rosenthal (1998), essas atividades do FEI incluem a formulação do produto e estratégia de comunicação, identificação de oportunidades e avaliação, geração de ideias, definição de produto, planejamento de
doi:10.22279/navus.2013.v3n2.p77-88.156 fatcat:56aekhnhyrd2fgrt6m2twzclm4