Medicina do sono
Carlos Alberto Viegas, Paulo Tavares
1999
Jornal de Pneumologia
No último encontro da American Thoracic Society, em abril de 1999, realizado em San Diego, CA, foram apresentados três trabalhos de autores brasileiros sobre medicina do sono, que passamos a comentar. O primeiro deles, feito em parceria entre a PUCRS (Porto Alegre) e a Universidade de Toronto (Canadá), estuda qualitativamente o óxido nítrico (NO) nasal e exalado, em pacientes portadores de síndrome da apnéia do sono obstrutiva (SASO). Os autores não encontram diferença estatisticamente
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... tiva quando comparam os níveis de NO dos pacientes com SASO e indivíduos normais. Então, especulam que ou o NO não reflete o tipo de inflamação encontrada na SASO, ou existiram fatores de confusão no estudo que modificaram os níveis do NO. Considerando que existe inflamação na SASO e que o NO é um marcador inespecífico de inflamação (1) e regulador do tônus broncomotor (2) , optamos pela possibilidade de fatores de confusão no referido estudo, uma vez que outros autores (3) encontraram níveis elevados de NO em pacientes portadores de SASO após o sono, quando comparados com níveis dos mesmos pacientes antes do sono, bem como com valores antes e após o sono de indivíduos normais. Portanto, nos parece razoável concluir que os níveis de NO encontram-se elevados em pacientes portadores de SASO apenas após o sono, momento em que a inflamação das vias aéreas superiores se encontra manifesta. O segundo trabalho, realizado em parceria com o Hôpital Saint-Antoine, Paris, e a Universidade Federal do Espírito Santo, diz respeito ao surgimento de hipertensão arterial (HA) no pós-operatório de pacientes normotensos submetidos à uvupalatofaringoplastia. Um dos assuntos em medicina que mais vem ensejando pesquisas clínicas e experimentais é o da associação entre síndrome de apnéia do sono obstrutiva e a hipertensão arterial. Aproximadamente 50% dos pacientes com SASO grave têm HA (4,5) e cerca de 30% dos pacientes com hipertensão arterial essencial têm SASO (6, 7) . Por outro lado, pacientes com HA e SASO tratados com continuous positive airway pressure (CPAP) melhoram a HA (8, 9) . Entretanto, mesmo havendo uma evidente relação entre a SASO e a HA, alguns autores têm negado esta associação, preferindo atribuí-la à idade, obesidade, ingestão de álcool, etc., que freqüentemente acompanham tanto uma como outra condição (10) . À HA que se manifesta em sono nos portadores de SASO chamamos hipertensão arterial aguda noturna e aparente-mente nada tem a ver com a HA crônica diurna, que também ocorre nesses pacientes. Não se sabe exatamente por que a PA dos pacientes com SASO se eleva durante o sono, alguns estudos assinalam que não é devido à hipoxemia (11) , mas sim devido à fragmentação do sono, isto é, a PA se eleva quando ocorre o microdespertar (12) , mas este é um assunto controvertido (13) . A associação entre HA e uvopalatofaringoplastia, conforme descrita no resumo em pauta, é pouco conhecida na literatura. A hipótese levantada pelo autor, de que seria conseqüente à estimulação simpática, parece ser a melhor. Segundo o resumo, os pacientes também agravam, no pós-operatório, o índice de apnéia/hipopnéia. É um tema que deve ser mais pesquisado, pois freqüentemente estes pacientes são já hipertensos e a cirurgia poderia agravar a HA no pós-operatório imediato.
doi:10.1590/s0102-35861999000500007
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