Laurinda Abreu (ed.), Igreja, caridade e assistência na península Ibérica (sécs. XVI-XVIII), Lisboa, Edições Colibri/Évora, Cidehus-Universidade de Évora, 2005, 322 p., ISBN : 972-772-447-7
Renato Franco
2009
Lusotopie
Lusotopie XVI (1), Also available online -brill.nl LES COMPTES RENDUS Laurinda ABREU (ed.), Igreja, caridade e assistência na península Ibérica (sécs. XVI-XVIII), Lisboa, Edições Colibri/Évora, Cidehus-Universidade de Évora, 2005, 322 p., ISBN : 972-772-447-7. De fundamentação bíblica, lastreado numa longa tradição teológica e doutrinária, o amor cristão (ágape, charitas) deve ser ativo, objetivado constantemente : assim como o corpo sem alma é morto, assim também a fé sem obras é morta
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... a de São Tiago 2, 26). Entendida como elemento norteador da fé enquanto experiência individual, a caridade assumiu ao longo da história da cristandade uma função social premente. Na esteira de um discurso religioso cada vez mais sensível aos pobres e diante da explosão da miséria, sobretudo urbana, desde fins da Idade Média, as monarquias européias procuraram, cada uma a seu modo, organizar seus respectivos sistemas assistenciais. No caso ibérico, tiveram em comum o esforço régio de melhor sistematização da administração hospitalar, o papel destacado das elites locais e, a partir do Concílio de Trento (1545-1563), uma viragem significativa na importância dada ao ato misericordioso. A ação pastoral tridentina encarregouse de inflar o valor imaginativo das boas obras entre os católicos, reafirmando a importância da doutrina do purgatório e atraindo para as instituições pias a administração de uma incontável quantidade de legados. Exemplo paradigmático deste movimento pode ser encontrado, para o caso português, nas Santas Casas de Misericórdia cuja primeira congênere foi criada em 1498, em Lisboa. Essas confrarias desde o início tiveram no apoio régio sua grande força : gradativamente a Coroa portuguesa orquestrou um processo de homogeneização hospitalar eliminando os pequenos estabelecimentos pios e repassando para as Misericórdias a administração de antigas instituições. Trento coroou, portanto, um movimento anterior de homogeneização que, em sua essência, foi marcadamente leigo, mas contou com o apoio ativo da Igreja. O livro Igreja, caridade e assistência na península ibérica (sécs. XVI-XVIII) organizado por Laurinda Abreu, professora do departamento de História da Universidade de Évora, traz um apanhado das mais recentes discussões que têm ocupado a historiografia ibérica sobre a assistência durante a Época Moderna. Se durante muito tempo a historiografia sobrevalorizou o papel de quase exclusividade das instituições no exercício da caridade, este livro traz uma série de « outras » formas de assistência que nada tinham de episódicas ou ocasionais. Este é um dos principais pontos de conexão entre os artigos do livro : a idéia da complexificação das práticas assistenciais para além do exclusivismo das instituições hospitalares. A historiografia portuguesa sobre assistência que, desde o início da década de 1990 passa por um profundo processo de renovação, esteve muito marcada pelo papel das Misericórdias, aprofundando-se de maneira significativa nos campos de atuação da irmandade, nas suas formas de seleção, suas relações com a Coroa e na sua atração sobre as elites locais. O caráter essencialmente laico dessas confrarias,
doi:10.1163/17683084-01601014
fatcat:nexfdpvodvhthgssas4infr34q