ASPECTOS DO BACHARELISMO EM MACHADO DE ASSIS

Yury Vieira Tupynambá de Lélis Mendes, Josélia Batista Mendes
2014 Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM  
RESUMO Este trabalho, de forma interdisciplinar, visa a estudar dimensões do bacharelismo presentes na obra machadiana. Assim, utilizaremos do método histórico para entendermos o bacharel em Direito na obra machadiana bem como sua imagem no século XIX e sua importância para a formação do Estado Nacional Brasileiro. Para tanto, inicialmente, aborda-se este último processo, e, a posteriori, a formação do Bacharel em Direito como componente da Elite desse Estado. Além disso, analisa-se o arquétipo
more » ... do personagem bacharelesco machadiano, e correlacionase a ficção com o momento histórico em que se inseriam autor e obra, desfazendo-se, assim, a imagem apolítica que muito se atribuiu a Machado de Assis. Em seguida, analisam-se algumas personagens machadianas, verificando-se a estereotipização do bacharel em Direito brasileiro. Por fim, conclui-se a necessidade desta figura na literatura machadiana, como ente da Elite sócio-político-cultural de nossa nação, em seu primeiro século como Estado Soberano. ABSTRACT These papers aim to study the dimensions of the bachelorism present in Machado's work. Then, we will use historical method to understand the Bachelor of Laws in Machado's work, as well as the figure of such bachelor in the 19 th century, and its importance for the generation of the Brazilian National State. For such purpose, this latter process is described at first and, after, the formation of the image of the Bachelor of Laws as Brazilian Elite is discussed. Moreover, the archetype of Machado's bachelor character is analysed, and a link between fiction and the historical context is established, undoing the apolitical trait that was long attributed to Machado de Assis. Furthermore, some of Machado's characters are studied, confirming the stereotype about the Brazilian Bachelor of Laws. At last, it is concluded that the presence of such figure in Machado's work, as a member of the socialpolitical-cultural Elite of the Brazilian nation during its first century as a Sovereign State. .br/redevistadireito v. 9, n. 1 / 2014 184 publicação de Iaiá Garcia, em 1878) quanto de sua segunda fase (entendida pela crítica como o início do realismo na Literatura Brasileira; portanto, a fase realista machadiana ou fase de maturidade intelectual 26 , inaugurada pela obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicada no ano de 1881, e que vai até à publicação de Memorial de Aires, em 1908, também ano de sua morte), identificando a presença do Bacharel em Direito na obra do "Bruxo da Cosme Velho", epíteto pelo qual é conhecido o autor Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). Cabe, porém, antes disso, acrescentar alguns prolegômenos biográficos sobre nosso maior imortal: Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839. De origem modesta, mestiço, começou a ganhar a vida como aprendiz de tipógrafo. Tendo sido sempre um autodidata, estreou na revista "Marmota Fluminense", publicando seu primeiro trabalho em 1855: a poesia "Ela". Daí tornou-se revisor (editora Paula Brito) e depois crítico literário (Marmota). Em 1869 casou-se com D. Carolina Xavier de Novaes, de quem se tornaria viúvo em 1904, ocasião em que escreveria o célebre soneto "A Carolina", e a partir de quando viveria a tristeza da viuvez, até seu falecimento, quatro anos depois, em sua residência, no Cosme Velho, em 1908. Foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 20 de junho de 1897 até sua morte, tendo deixado profusa obra, até hoje reverenciada pelos literatos brasileiros e estrangeiros e que, certamente, atravessará os séculos na estante literária da eternidade. Romances: Primeira Fase Desde seus primeiros romances, em sua primeira "fase" (época em que Machado de Assis está preso aos valores do Romantismo, onde tanto sua ficção como os demais gêneros .br/redevistadireito v. 9, n. 1 / 2014 188 Ao que, novamente, cabe-nos dizer: a escolha da profissão de narradores e personagens, tanto nos dois principais romances quanto nas dezenas de contos de nosso maior imortal, sugere que ela é impositiva, que faz parte da própria estrutura do texto, como condição de sua existência e desenvolvimento (OLIVO, 2011, p.28).
doi:10.5902/1981369413670 fatcat:jecc4buowfdldisolzscbqezlq