Obstacles to the Adequate Use of Pediatric Emergency Departments in Portugal [letter]
Obstáculos à Utilização Adequada das Urgências Pediátricas em Portugal

Catarina Calheno Rebelo, Tiago Sousa
2020 Acta Médica Portuguesa  
Caro Editor, foi com muito interesse que li o artigo "Utilizadores Frequentes da Urgência Pediátrica: Conhecer, Intervir e Analisar -Um Estudo Piloto", 1 publicado no número de maio de 2020 da Acta Médica Portuguesa, que pretende identificar e caracterizar os utilizadores frequentes da urgência pediátrica (UP), assim como propor um plano para melhorar esta problemática. O presente estudo concluiu que o modelo de gestão de caso, responsável por executar uma intervenção criada por profissionais
more » ... saúde hospitalares e dos cuidados de saúde primários (CSP), pode reduzir de forma significativa as utilizações inadequadas de uma UP. A Saúde Infantil e Juvenil é considerada uma prioridade no programa nacional de saúde. 2 Está previsto que o acompanhamento do desenvolvimento das crianças seja realizado nos CSP por Médicos de Família (MF), capacitados nesta tarefa. Perante um caso urgente, o MF realiza a avaliação inicial e determina a necessidade de tratamento em ambulatório ou referenciação hospitalar. Contudo, a realidade dos CSP não é transversal no nosso país. A reduzida acessibilidade verificada em algumas regiões pode traduzir-se num elevado recurso às UP. Paralelamente, a educação para a saúde detém um papel fundamental na capacitação e promoção da autonomia dos utentes. 3 Um utente capaz de reconhecer e atuar perante um problema de saúde terá menor probabilidade de utilizar os serviços de saúde, podendo recorrer a auto-cuidados em diversas situações benignas. As listas de utentes extensas atribuídas aos MF 4 condicionam agendas sobrecarregadas, com limitações óbvias na capacidade de resposta individual aos utentes, o que dificulta um investimento otimizado na educação para a saúde. A utilização frequente das UP parece resultar, tal como sugerido pelos autores, da iliteracia em saúde e, secundariamente, da menor acessibilidade aos CSP em alguns locais. A presença de um gestor de caso atribuído a cada utente proporciona um contacto próximo com o profissional de saúde, estabelecendo uma relação de confiança que permite o esclarecimento de dúvidas e orientação precoce do quadro clínico. Este plano de intervenção personalizado demonstra, igualmente, a importância da articulação entre os dois níveis de cuidados, nomeadamente hospitalares e CSP. Em suma, um número elevado de quadros clínicos em idade pediátrica não apresenta gravidade suficiente para carecerem de avaliação em unidades hospitalares, 5 verificando-se um consumo de recursos que poderiam ser mais eficazmente alocados. Este trabalho enaltece a pertinência de intervenções com a participação de diferentes níveis de cuidados, de forma a capacitar os utentes e assegurar a sustentabilidade dos recursos em saúde. REFERÊNCIAS
doi:10.20344/amp.14200 pmid:32893779 fatcat:7hpa6svt4nadxhhqnhfxf6rfgi