Revista de Letras Norte@mentos CATADORA

Estudos Literários, Sinop, Francisco Pereira Pinto
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Início da semana, quase meio dia. Por sorte dia nublado, ar muito úmido. De volta da faculdade, lá ia eu, subindo a Humberto de campos e, como é hábito, absorto nos pensamentos, talvez pra não perceber a distância e evitar cair no desânimo. Cena inusitada aquela, do tipo que acontece uma vez na vida e não se repete nem por esforço árduo da memória. Descrevê-la? Bobagem! Há coisas que se vive apenas no campo da subjetividade, pois quando se passa ao cognoscível, restam apenas vagas lembranças
more » ... , embaralhadas mais se parecem sonho. Uma senhora meia idade, meio alta, talvez. Magra, e isso é fato, mas não do tipo esquelética. Pele parda, tostada. Será trabalho do ardente sol tocantinense? Caminhava a largos passos, mas parecia puxar mais por uma perna, de modo a sobrecarregar a outra. Diante de si, a empurrá-lo, um carrinho tipo vendedor de bananas. Mais parecia uma jaula de animais, mas sobre duas rodas. Não devia ser difícil manejar o objeto de trabalho, pois estava a segurá-lo com uma só mão. Não se pode desprezar também o fato de ela ir rua abaixo e aí, como diz, todo santo ajuda. Cheio estava o carrinho, parece que aquele meio dia lhe havia sido próspero. Até parecia desconhecer a mundial crise econômica. Igualmente imponente era aquela senhora, que trajando um bonito vestido de musseline, rosa claro, mais parecia estar numa passarela que na desfigurada Humberto de Campos. Os longos brincos, de argola, imitavam o tom da vestimenta, de modo a denunciar simetria entre peças principais e acessórios. Quem pode negar que isso em algum tempo já foi fashion, índice de bom gosto? A cobrir-lhe a cabeça, um chapéu branco, de crochê. Parecia um daqueles gorros com que as mães vestem a cabeça dos bebês. As sandálias eram do tipo havaianas e me pareceram amarelas. Desgastas, pelo jeito. Talvez já muito tempo lhes protegiam os pés.
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