Editorial

Monica Dias Martins
2018 Tensões Mundiais  
Editorial O s militares contribuíram de múltiplas formas nos complexos processos de construção das comunidades imaginadas que legitimam suas dispendiosas corporações, notadamente por via do serviço militar universal e obrigatório. A chamada conscrição, desenvolvida a partir do século XIX, ajudou a sacralizar o território e transferiu a todos a obrigação da sua defesa. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, com o emprego de armas e equipamentos crescentemente sofisticados -e de produção altamente
more » ... nopolizada -a guerra passou a exigir a formação de profissionais cada vez mais qualificados tecnicamente. Como seria estabelecida, então, a relação entre o militar e a comunidade que, unida abstratamente, empresta sentido à sua existência? Levantamos estas provocações a Benedict Anderson e suas reflexões foram apresentadas na conferência de abertura do V Encontro Anual da Associação Brasileira de Estudos da Defesa, ocorrido em Fortaleza. Depois de lembrar que os militares quase sempre se percebem como distintivos da nacionalidade, o reputado pensador sublinhou um fato indiscutível, mas nem sempre levado em conta: as forças armadas constituem a mais estandardizada das instituições do Estado-nação. Em outras palavras, estrutural e funcionalmente, os exércitos são muito parecidos, não obstante as indiscutíveis diferenças que os caracterizam. Dado o desenvolvimento da indústria de armas, monopolizada por poucos países, a maioria das instituições militares, sem abandonar a condição de símbolos distintivos da nacionalidade, se transformaram em organismos "distantes de qualquer ideia de singularidade nacional" e ficaram acentuadamente "dependentes do mundo exterior". Findos os movimentos de expansionismo territorial e com o advento da Guerra Fria, o papel da maior parte das corporações militares -de "defesa externa" -foi conturbado, já que assumiram
doi:10.33956/tensoesmundiais.v7i12.681 fatcat:hrzasizq6jcwtpslm4wleond5m