Efeitos de fragmentação florestal na guilda de borboletas frugívoras do Planalto Atlântico Paulista

Marcio Uehara-Prado
unpublished
Resumo Os efeitos de fragmentação em guildas de borboletas Nymphalidae que se alimentam de frutas fermentadas, e a condição de indicadores ecológicos dos componentes dessa guilda, foram avaliados através de comparações entre sítios de floresta contínua (Reserva Estadual do Morro Grande, Cotia, SP) e fragmentos. Após 36.000 armadilhas/hora de amostragem, 70 espécies pertencentes a seis subfamílias de Nymphalidae foram capturadas, num total de 1810 indivíduos (661 indivíduos em 54 espécies na
more » ... rva e 1149 indivíduos em 64 espécies nos fragmentos, com 48 espécies em comum entre as paisagens). Contrário à maior parte dos estudos conhecidos com populações de borboletas, a razão sexual observada para a maioria das espécies do presente estudo não foi desviada para machos. A taxa de recaptura dos indivíduos foi baixa (menor que 30%) em ambas as paisagens. Os diferentes padrões de distribuição temporal encontrados para as subfamílias mais abundantes possivelmente estão relacionados a três fatores principais: voltinismo, disponibilidade de recursos larvais e abundância de predadores e parasitóides. A hipótese de que os indivíduos estariam distribuídos homogeneamente nas duas paisagens foi aceita em 21 das 35 espécies com abundância ≥ 8 indivíduos. Das espécies restantes, quatro foram mais abundantes na reserva e 10 nos fragmentos. Entre as espécies que apresentaram diferenças significativas de distribuição, as de Brassolinae tiveram maior abundância na reserva, e as de Biblidinae e Charaxinae nos fragmentos. As distribuições espécie-abundância ajustaram-se ao modelo log-normal e ao log-série para o conjunto total de borboletas, para fragmentos e reserva, e para cada unidade amostral separadamente, exceto a unidade D da reserva, que não ajustou a log-série. As curvas de acúmulo de espécies não atingiram a assíntota em nenhuma das unidades, indicando que a comunidade não foi amostrada na sua totalidade. A similaridade faunística entre paisagens foi alta tanto quantitativa (90%) quanto qualitativamente (81%). Mesmo com essa grande similaridade, a análise de agrupamento segregou as unidades amostrais da reserva e dos fragmentos, indicando efeito de fragmentação florestal sobre a composição da comunidade de borboletas frugívoras. No presente estudo, a subfamília Satyrinae não foi indicadora de perturbação antrópica, distribuindo-se homogeneamente entre paisagens. Essa subfamília também não apresentou correlação com nenhuma variável ambiental, mesmo aquelas que poderiam indicar indiretamente perturbação. Percebe-se que borboletas grandes, como espécies de Brassolinae, podem apresentar maior sensibilidade à fragmentação, sendo indicadoras tanto diretamente dos efeitos na paisagem quanto indiretamente dos efeitos em variáveis da vegetação. As subfamílias Biblidinae, Charaxinae e seus componentes foram claramente favorecidos pelos efeitos de fragmentação florestal, correlacionando-se com variáveis que responderam positivamente à fragmentação, e apresentando distribuição preferencial nos fragmentos. O número de espécies de borboletas frugívoras correlacionou-se positivamente à riqueza de espécies arbóreas, sugerindo que a riqueza de borboletas dessa guilda pode atuar como indicadora de biodiversidade. Os resultados obtidos permitem concluir que existem efeitos de fragmentação na região de estudo que são refletidos na guilda de borboletas frugívoras, podendo ser medidos de modo distinto em diferentes escalas (unidade amostral e paisagem), recortes taxonômicos (espécie e subfamília) e ecológicos (populações e guildas). Esses resultados podem nortear futuros trabalhos, sejam eles de biologia populacional ou ecologia de comunidades. Podem também ser adotados como diretrizes para a criação de um protocolo para inventários de borboletas frugívoras na Mata Atlântica, ou para a aferição das condições de conservação de ambientes florestais. Palavras-chave: composição de espécies, conservação, diversidade, fragmentação florestal, indicadores biológicos, Lepidoptera, Mata Atlântica, remanescentes florestais, riqueza de espécies.
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