Viajantes do maravilhoso: o Novo Mundo

Sheila Maria Douta
1993 Revista de História  
Sheila Maria Douta * O ponto central do livro de Giucci é a análise do imaginário dos navegantes e conquistadores europeus que, financiados pela Coroa de Castela e movidos pela ambição de riqueza rápida, aventuraram-se pelo Atlântico entre o final do século XV e começo do XVI. Para melhor entender o que movia os conquistadores -e descobridores -desse período, o Autor retoma a herança recebida da Antigüidade, particularmente a visão que se tinha em relação ao Atlântico, esse mar "tenebroso" e
more » ... terioso que estava além dos limites do mundo conhecido. Três navegantes são tomados como paradigma por terem ultrapassado as Colunas de Hércules e se lançado no Atlântico: Ulisses, de Homero, que ao se deparar com habitantes de algumas ilhas estabelece a dicotomia entre o mundo civilizado e a barbárie; São Brandão, que no século V descobre numa ilha o paiafso prometido; e, finalmente, o Ulisses de Dante, que inaugura as viagens em nome do conhecimento -e da Ciência -mas é castigado com o naufrágio por sua curiosidade. Ainda compondo essa herança, Giucci destaca que o imaginário em relação ao distante e desconhecido foi também alimentado pelas narrativas de viagens ao Oriente feitas por Heródoto, Plínio, Santo Isidoro e Marco Polo, nas quais os elementos que compõem o "maravilhoso" são sempre enaltecidos: natureza pródiga e exuberante, ócio e promessa de muita riqueza. É impulsionado pelo binômio remoto/maravilhas -cuja imagem principal é a da opulência das terras distantes -que o navegador europeu "descobre" o continente americano, dando início ao que Giucci chama de "conquista do maravilhoso". Esse processo de conquista é já desde o seu início, marcado por conflitos e tensões, na medida em que os primeiros navegadores logo perce-Doutoranda em Antropologia Social -FFLCH/USP.
doi:10.11606/issn.2316-9141.v0i127-128p223-225 fatcat:dxqz46ge3zdhfaifir6x6uchvu