A PULSÃO PLEBEIA: TRABALHO, PRECARIEDADE E REBELIÕES SOCIAIS

Igor Peres
2017 Revista da ABET  
Michael Löwy, quem assina a contracapa de A Pulsão Plebeia: trabalho, precariedade e rebeliões sociais (2015), mais novo livro de Ruy Braga, brinda o leitor com uma chave preciosa de leitura para o conjunto de ensaios ali reunidos. Tratam-se de "crônicas gramscianas", diz Löwy. É certo. O livro, de leitura agradável e fluída, parte na maioria dos casos de fatos cotidianos que são escolhidos e comentados segundo sua representatividade política: rebeliões em canteiros de obras, manifestações de
more » ... vens que vivem na periferia das grandes cidades, massacre perpetrado contra os setores mais vulnerabilizados da sociedade sul-africana, movimentações de massa na Argentina, e assim por diante. Neste sentido, há que se advertir o leitor que se bem o livro em questão se nutra fortemente dos eventos ocorridos no Brasil, reivindica uma perspectiva deliberadamente global. Das linhas que o compõem, surgem considerações sobre o futuro dos países mais afetados pela "Troika", os destinos da União Europeia, apostas sobre as condições de possibilidade de um novo internacionalismo, dentre outros. Crônicas, foi dito. Crônicas globais, dizemos nós; e como em toda boa crônica, o leitor atento poderá distinguir traços que, sem destoar dos elementos de superfície, com eles convivem e a eles conferem sentido e forma. O livro se arma concretamente a partir de três linhas de força. Uma objetiva, e outras duas subjetivas. A linha objetiva corresponde à reconfiguração dos regimes de trabalho à escala global, que respondem ao que Braga chama de "modo de acumulação" pós-fordista. A contraparte subjetiva, por sua vez, fica por conta das transformações nas formas de construção da subjetividade subalterna, tanto do ponto de vista de sua expressão representativa, isto é, de seus dirigentes, quanto do ponto de vista do que se costumou chamar de "bases". Com relação aos efeitos produzidos pelo mencionado "modo de acumulação" contemporâneo, Braga aposta na categoria de precariado, diferenciando-a, contudo, dos usos que dela fazem autores como o sociólogo inglês Guy Standing. Para este, em vez de configurar-se como uma parte da classe trabalhadora, isto é, uma mutação interna de sua constituição intrinsecamente desigual, o precariado conformaria uma "nova classe" de pleno direito (p. 25). Para Braga, ao contrário, o precariado, ou o "proletariado precarizado", seria parte integrante da classe trabalhadora, conformando-se a partir de traços distintivos tais como a baixa qualificação, a alta rotatividade e a sujeição aos altos índices de acidentes de trabalho; a dito espaço social teriam de ser somadas ainda largas parcelas de jovens trabalhadores à procura de seu primeiro emprego (p. 92). Qual a face subjetiva deste arranjo de base? Aqui creio que entramos na parte mais estimulante do livro que ora se resenha. Assumese como pressuposto de base a ideia de que a subjetividade popular é sempre plástica e maleável, o que implica ao menos duas consequências. A primeira delas, é que não é possível deduzi-la de estrutura fixa alguma, quer seja material ou simbólica. A segunda, 1 BRAGA, Rui. A pulsão plebeia: trabalho, precariedade e rebeliões sociais. São Paulo: Alameda Editorial, 2015.
doi:10.22478/ufpb.1676-4439.2017v16n1.36043 fatcat:76lnn2eycvdzdcfe5yfeoz6f5q