Estrabismos: da teoria à prática, dos conceitos às suas operacionalizações

Harley E. A. Bicas
2009 Arquivos Brasileiros de Oftalmologia  
Analisam-se particularidades inerentes ao estudo dos estrabismos, tais como as dificuldades para suas definições e os diferentes modos com os quais eles podem ser concebidos, a relatividade com que as posições binoculares possam ser interpretadas e os elementos referenciais necessários para a circunscrição dessas questões. A partir daí, discute-se o conceito de posição primária do olhar e as condições de sua operacionalização, concluindo-se pela impossibilidade de concretização desse ponto
more » ... ", a partir do qual seriam feitas as medidas dos estrabismos e as quantificações de movimentos oculares. A seguir, passa-se ao exame da construção dos múltiplos sistemas referenciais aplicáveis à quantificação dos estrabismos, de cuja falta de consenso sobre qual deles usar decorrem implicações práticas elementares, como a falta de padronização do modo de superposição ortogonal de prismas, para a medida de desvios combinados, horizontal e vertical. Comenta-se a assimetria funcional das rotações oculares e suas exceções. Também se analisa a precisão com que se pode fazer a medida de um estrabismo, levando à conclusão sobre a impropriedade de uso de medidas fracionárias com as unidades angulares mais comumente usadas. Finalmente, são comentados alguns problemas técnicos dessas avaliações, tais como o das dificuldades operacionais relacionadas à dioptria-prismática, os subordinados ao uso de prismas e os da ocorrência de efeitos prismáticos pelo uso de lentes convencionais. RESUMO CONFERÊNCIA C.B.O. -2009 INTRODUÇÃO Seria lógico esperar que o homenageado com a distinção de proferir conferência magna apresentasse nessa exposição a sinopse dos tópicos mais relevantes de sua trajetória acadêmica, com os quais julgasse haver mais contribuído para o avanço e a consolidação de conhecimentos em sua área de atuação. Mas, ao contrário, não me referirei a eles, conquanto, obviamente, não possa deixar de discorrer sobre temas relacionados aos estrabismos, os ocupantes de parte substancial de minha mente. Escolho conjeturar sobre a estrutura de conceitos pelos quais se fundamentam as aplicações diagnósticas e terapêuticas no atendimento dessas afecções, sobre procedimentos com que tais concepções são operadas e sobre suas respectivas limitações. De fato, até sobre a própria definição de estrabismo, cujo rigor formal deveria claramente delimitar a extensão e o significado do termo, não há consenso. E, mais, nem sequer se delineia um entendimento comum sobre
doi:10.1590/s0004-27492009000500002 pmid:20027395 fatcat:iackvc554natlkfupst6ziepua