COMPORTAMENTO DE ESPÉCIES DE MERCÚRIO NO SISTEMA SEDIMENTO-ÁGUA DO MANGUE NO MUNICÍPIO DE CUBATÃO, SÃO PAULO

Raphael Hypolito, Luciana Maria Ferrer, Silvia Cremonez Nascimento
2005 Revista Águas Subterrâneas  
Recebido em 16/04/2004, aceito em 25/09/2004 RESUMO A área de estudo encontra-se degradada especialmente devido o lançamento contínuo de efluentes na Baía de Santos, Rios Cubatão, Mogi etc. com fontes difusas de emissão de mercúrio, além da ocupação urbana e industrial, muito próximas. Uma vez detectada a presença de mercúrio no estuário, foram efetuadas caracterizações texturais, mineralógicas e químicas com levantamentos de parâmetros físico-químicos locais, objetivando o estudo do
more » ... to do mercúrio nesse ambiente. Valores de potencial de óxido-redução, presença de pirita e matéria orgânica indicam estabilidade do mercúrio principalmente sob a forma de Hg 0 (aq) e de HgS. As cargas superficiais negativas das partículas coloidais dos argilominerais facilitam a adsorção de mercúrio iônico e/ou complexado. O mercúrio acha-se associado à matéria-orgânica nos sedimentos enquanto nos lodos é praticamente nula a influência em seu comportamento. Os óxidos-hidróxidos (Fe e Al) pouco contribuem para a fixação do mercúrio nos sedimentos, mas são decisivos nos lodos. A força iônica influi na mobilidade do mercúrio apenas nos locais sujeitos à variação da maré. Palavras-chave: mercúrio, solos, sedimentos, águas superficiais, águas subterrâneas. ABSTRACT The study area is specially degraded due to the continuous release of effluent in the Santos Bay, Cubatão, Mogi Rivers etc. coming from diffuse sources of mercury emission, besides the urban and industrial very close occupation. Once presence of the mercury was detected in the estuary, characterization grains size, mineralogical and chemical with survey physical-chemical parameters, in order to determine the behavior of the mercury in this environment. Value of oxidereduction potential, pyrite presence and organic matter indicated mercury stability under the form of Hg 0 (aq) and of HgS. The negatives superficial loads of the coloidal particles to the clay minerals facilitate the adsorption of mercury ionic and/or complex. The mercury is associate to the organic matter in the sediments and in the muds it has practically null the influence in your behavior. The oxide-hydroxides (Fe and Al) have a low contribution to the mercury fixation in the sediments, but they are decisive in the muds. The ionic strength just influences on the mobility of the mercury in the places subjects to the variation of the tide. INTRODUÇÃO O mercúrio é, de modo geral, introduzido no meio ambiente através de atividades antrópicas de diversas naturezas e sua interferência no ecossistema ocorre quando é incorporado na cadeia trófica. Na forma metálica ele fica sendo disponível para diferentes reações químicas, biológicas e fotoquímicas (KAISER; TÖLG, 1980) podendo tornar-se bastante estável. No meio natural, a forma mais abundante do mercúrio é representada pelo cinábrio (HgS) de onde é extraído. No Brasil sua produção é realizada somente através de fontes secundárias a partir de resíduos industriais e sucatas. Estima-se, através do consumo para as diversas atividades, que do total de mercúrio metálico importado, são perdidos mais de 360 toneladas e não recuperados cerca de 60%. As principais perdas concentram-se nas atividades garimpeiras (80%) e, em segundo lugar, surgem as indústrias de clorosoda com 8% de perdas. Na indústria de cloro-soda, que utiliza no processo produtivo células eletrolíticas, as perdas se distribuírem essencialmente no sistema de salmoura (60%), no ar da sala das células (25%), no hidrogênio (4%), na lixívia (1%) e outras formas diversas (10%) (FERREIRA; APPEL apud MASTER, 1989). A utilização de novos processos de produção, entretanto, representados pela tecnologia de células de membrana e de células de diafragma de amianto, tem diminuído o consumo de mercúrio na produção de cloro e soda. Uma das emissões do mercúrio para a atmosfera, resultado de atividades antropogênicas, é responsável por valores que oscilam de 20 a 60% de sua emissão total (NIAGRU, 1990; WILKEN; HINTELMANN, 1990) . Uma vez no meio aéreo, com a precipitação meteórica, o mercúrio é incorporado ao sistema aquático e, dependendo das condições do sistema, por exemplo, se o meio for ácido, pode ocorrer formação de monometilmercúrio, forma na qual penetra facilmente nas membranas celulares e entra na cadeia trófica.
doi:10.14295/ras.v19i1.1348 fatcat:varimzzkdvdlngpuednnn2k6qy