Lisboa setecentista vista por estrangeiros. Lisboa: Livros Horizonte, 1992

Revista De História Comparada, Rio De Janeiro, Santos, Piedade Braga, Rodrigues, Teresa, Nogueira, Margarida Sá
2013 unpublished
Resumo: Entre meados do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, marinheiros forros e escravos atuaram na navegação de longa distância, ligando os portos situados nos domínios lusos. O artigo discute as especificidades dos registros desses trabalhadores. Ao mesmo tempo, distingue forros e escravos, sobretudo africanos, e as formas e perspectivas de engajamento desses homens no mundo do trabalho marítimo no Atlântico. Palavras-chave: História Atlântica-Escravidão-Liberdade-História
more » ... tima. Summary: Between mid-eighteenth century and the first decades of the nineteenth century, slaves and manumitted sailors acted in long-distance navigation, connecting ports located in Portuguese domains. The article discusses the specifics of the records of these workers. At the same time, it distinguishes manumitted and slaves, especially Africans, and the perspectives and the ways of engaging of these men in the world of maritime labor in the Atlantic. Engajamentos e perfis marítimos As profissões marítimas no tempo da navegação à vela foram variadas. Marinheiros negros, africanos ou nascidos nos domínios portugueses, forros ou escravos, engajaram-se em embarcações na época colonial e após a independência do Brasil. Por vezes vamos encontrá-los em lugares e situações aparentemente incomuns. 1 * Agradeço à CAPES e à FAP/UNIFESP pelo apoio concedido ao projeto de pesquisa "Cultura marítima no Atlântico (séculos XVIII e XIX): autonomia escrava, ritos a bordo e vida material", do qual este texto é um resultado, sob a forma de auxílios a viagens que me permitiram consultar arquivos em Lisboa e apresentar uma versão preliminar deste texto no XI Congresso Internacional da Brazilian Studies Association na University of Illinois em Champaign (EUA) em setembro de 2012. 23 pontapés; o que (...) os torna extremamente obedientes. O camareiro, que, como já te disse, é negro (...) não os poupa de umas boas surras quando saem da linha". Nos navios portugueses, a cor da pele, confundida com a condição social, impedia negros de se tornarem gente de "habita, rufo e volta na habita", antiga gíria maruja para designar pessoa de alta categoria. 38 Como primeiro exercício, podemos contrapor os dados destes forros pardos aos dos negros na mesma condição. Dos 42 pretos forros da amostra, nenhum teve registrado seu estado civil e apenas um teve assinalado os nomes do pai e da mãe-o baiano Santos Xavier, de 18 anos e marinheiro de primeira viagem 39-sinal de que seus pais eram formalmente casados ou viviam em concubinato. Cinco deles vinham como cozinheiros, outros cinco eram "moços", 23 eram serventes e nove não tiveram a função a bordo registrada. Neste caso, como no dos pardos forros, a ausência de menção à ocupação não sugere que esses homens fossem mais graduados do que serventes. Seguramente, eram marinheiros comuns, assim como os que mereceram o registro de serventes. Os pretos forros haviam nascido sobretudo na África: sete eram de Angola, um de Benguela, outro de Bissau, sete de Cabo Verde, um do Congo e nove da Costa da Mina. Nove outros eram naturais da América portuguesa (um da Bahia, dois da Paraíba, dois de Pernambuco, três do Rio de Janeiro e um de Santos, São Paulo), enquanto três eram nascidos no Reino (dois em Lisboa e um no bispado de Braga), sendo que para quatro homens não há informação acerca da naturalidade. Quando aos traços físicos, sabemos apenas como era João Roiz, de 20 anos de idade e seis de vivência marítima: de "estatura menos de ordinária, rosto comprido, nariz longo, cabelo preto frisado". Para os 41 restantes, não se fez menção a sinais físicos exceto a cor da pele.
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