Hawthorne entre puritanismo e transcendentalismo

Geraldo Magela Cáffaro
2008 Revele Revista Virtual dos Estudantes de Letras  
A preocupação moral e religiosa ocupa lugar de destaque na obra do escritor americano Nathaniel Hawthorne. Essa característica tem sido a principal norteadora da crítica do escritor, levando a abordagens muitas vezes reducionistas de sua escrita. Assim, a tendência mais comum tem sido, até agora, ler Hawthorne como um mero defensor dos ideais puritanos. Tal tendência mostra-se reducionista na medida em que negligencia a influência de uma outra corrente de pensamento na obra do escritor: o
more » ... endentalismo. Se por um lado, para Hawthorne o puritanismo representava a ancestralidade e a tradição, por outro, o transcendentalismo era a possibilidade de renovação de valores morais e individuais. Dessa forma, percebe-se que Hawthorne vivia entre dois mundos, ora flertando com o passado (puritanismo), ora com o futuro (transcendentalismo). Essa posição lhe permitiu, muitas vezes, agir como observador e crítico de ambos os lados. Nos contos "O Artista do Belo" e a "A Imagem de madeira de Drowne", Hawthorne revela seu lado progressista e assume a postura de crítico do puritanismo ou, como sugere Stuart Pratt Sherman, "um crítico do puritanismo sob o ponto de vista transcendentalista". 1 Essa postura pode ser confirmada através da análise de pontos divergentes entre as duas escolas de pensamento com relação ao tema da criação. A relevância desse tema reside nas suas várias implicações sob a perspectiva bíblica do Gênesis, entre as quais cito o pecado da soberba ou orgulho, a doutrina do pecado herdado e a visão da mulher como ameaça à moral. De acordo com alguns críticos, Hawthorne compartilhava desses princípios puritanos. Heather O'Toole,
doi:10.17851/2317-4242.1.1.208-214 fatcat:5y6o6gagnfeilpim4d6lntj6ly